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A garotinha ruiva foi retratada em “Snoopy e Charlie Brown: Peanuts, O Filme”, de 2015 | 20th Century Fox- Blue Sky Studi/Divulgação
A garotinha ruiva foi retratada em “Snoopy e Charlie Brown: Peanuts, O Filme”, de 2015| Foto: 20th Century Fox- Blue Sky Studi/Divulgação

Se a jovem Donna Mae Johnson tivesse aceitado a afeição de Charles Schulz até o altar, o mundo teria recebido o melhor quadrinho de todos os tempos no Valentine’s Day (Dia de São Valentim, data comemorativa americana semelhante ao Dia dos Namorados no Brasil). Mas, como a ruiva Johnson escolheu outro homem, os leitores foram presenteados com o rito anual de amor não correspondido de Charlie Brown.

Terça-feira (14) foi o aniversário de 64 anos da primeira tirinha de Valentine’s Day dos Peanuts, em que Charlie Brown lamenta - “Não recebi nenhum cartão! Nenhum!” - o que instiga o envio de um cartão de pena. Essa tirinha inaugural ainda não mostra nenhuma menina ruiva mas ela acaba aparecendo em Peanuts, conforme o objeto de obsessão fora das câmeras de Chuck se torna um símbolo de seus sonhos, desejos e azar na vida amorosa.

Alguns anos depois da tirinha, Schulz se apaixonou pela real “menina ruiva” em Minnesota, seu estado natal. Ao contrário das tirinhas, Charles e Donna chegaram a sair juntos. “Ela foi a primeira pessoa com quem Sparky (apelido de Schulz) teve um relacionamento - a primeira pessoa que ele permitiu ter seu amor”, disse Jean Schulz, que foi casada com o criador dos Peanuts por quase três décadas, para o The Washington Post em 2015. “Quando eles trabalhavam juntos, eles passavam um para o outro pequenos bilhetes desenhados”.

“Ela foi a primeira pessoa com quem Sparky (apelido de Schulz) teve um relacionamento - a primeira pessoa que ele permitiu ter seu amor”

Jean Schulzesposa de Charles Schulz

“Ah, nós namoramos por uns dois anos”, disse a Donna Johnson ao The Post em 2015. “Eu o amava”. O menino que um dia fora tímido demais para mandar bilhetes de Valentine’s Day na escola se tornou um homem aos 20 e tantos anos que tinha uma confiança crescente com Donna. Ele até foi treinador dela de softball no time da empresa Art Instruction Inc., em Minneapolis.

Mas, eventualmente, Donna preferiu Al Wold, um bombeiro, a Schulz. “Eu acho que eu escolhi Al porque eu conhecia os amigos dele, que se tornaram meus amigos também”, diz Donna. “Eu não conhecia os amigos de Sparky”.

“Mas isso já faz muito tempo”, complementa.

Mito e fantasia

Schulz não conseguiu esquecer rapidamente a dor de sua perda. O United Feature Syndicate lançou Peanuts em 1950, e, três anos depois, sua primeira tirinha sobre cartões de Valentine’s Day apareceu. Em 1961, Charlie Brown menciona “a menina do cabelo ruivo” pela primeira vez. Mas não era para ser; ele esperou por ela até o fim das tirinhas, assim como nos especiais animados e no filme mais recente.

Jean Schulz diz que não podemos conhecê-la: “existe esse mito e essa fantasia”.

Mas a paciência de Charlie Brown na caixa de correio - como um vigília do amor correspondido - é constante. “Existe uma lenda antiga que diz que se você ficar na frente da caixa de correio tempo suficiente você vai receber um cartão de Valentine’s Day”, conta Charlie Brown para Lucy em uma das tirinhas. Em outra, ele diz: “o Valentine’s Day acabou. Eu daria qualquer coisa para aquela menina de cabelo ruivo me mandar um cartão”.

“Tudo que você precisa é amor. Mas um pouco de chocolate de vez em quando também cai bem”

Charles Schulz

Essa dinâmica gerou dois especiais animados: o “Be My Valentine, Charlie Brown” de 1975 e o programa póstumo de 2002, “A Charlie Brown Valentine”. Também criaria uma tradição de 13 anos no Museu do Schulz (Schulz Museum in the Bay Area”, em que antes do Dia de São Valentim, ruivas podem entrar de graça no museu.

Donna Johnson Wold faleceu no agosto do ano passado - um ano depois de ter dito para o The Post que teve uma boa vida.

E o cartão de Valentine’s Day que nunca chega permanece um aspecto vital dentro do mundo de Peanuts - mais um dos numerosos rituais comemorativos deles. “Tudo que você precisa é amor”, disse Charles Schulz. “Mas um pouco de chocolate de vez em quando também cai bem”.

Tradução de Gisele Eberspächer

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