Trailer| Foto: Divulgação/RKO Radio Pictures Inc.

São Paulo – Ele passou rapidamente do sucesso ao esquecimento. W. Somerset Maugham (1874–1965) chegou a ser um dos autores mais populares do mundo nos anos 30 a 50. Multiplique por dois, por dez os números de Paulo Coelho no mercado editorial e você terá o que Maugham representava há mais de meio século. O cinema contribuiu para a popularização. Servidão Humana, A Carta, O Fio da Navalha e O Véu Pintado foram todos filmados (e refilmados).

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O caso de O Véu Pintado é o que mais interessa, agora, porque o romance que originou o filme de Richard Boleslawski com Greta Garbo, em 1934, fornece a base para O Despertar de Uma Paixão, que estréia hoje nos cinemas brasileiros. É um bom filme e a mais bem-sucedida tentativa recente de adaptar o universo do autor ao ritmo trepidante da vida moderna. Edward Norton empenhou-se a fundo para que o filme fosse feito – Bill Murray também se havia empenhado para viabilizar O Fio da Navalha, anos atrás, e o resultado havia sido insípido, senão desastroso. Norton tem de agradecer ao diretor John Curran e ao roteirista Ron Nyswaner. E – claro – a Naomi Watts, sem a qual, por sua beleza e talento, a personagem de Kitty não seria tão sedutora.

Há, no livro de Maugham, uma metáfora sobre a vida como um véu pintado. Kitty é frívola, produto de um meio social decadente. A família não tem mais dinheiro. A mãe tenta manter a pose. Dilui vinho com água e serve como se ninguém fosse notar, mas seus convidados notam. Kitty passou do tempo de se casar. Quando a irmã mais nova arranja um marido, ela entra em pânico e diz sim ao primeiro que aparece – um médico por quem não tem afeto. Ele é idealista. Arrasta-a para a China, onde ela tem um caso com o vice-cônsul inglês em Xangai. O marido ultrajado leva a mulher para uma área no interior da China na qual grassa uma epidemia. Ele quer que ela morra e Kitty, num certo sentido, sente que morreu, que está sendo emparedada viva neste mundo real que não lhe permite mais ver a vida por meio do véu pintado das convenções sociais.

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Como sugere o título brasileiro, O Despertar de Uma Paixão trata da transformação da frívola Kitty numa mulher madura e decidida. Trata também da transformação do marido rancoroso num homem que vai descobrir a compaixão e de como ambos vão descobrir o afeto. Maugham é um autor esquecido, mas ainda tem algo a dizer, especialmente sobre a necessidade de prazer sexual da mulher, que ele encarou com tanta franqueza em seus livros. É quase sempre a sensualidade delas que deflagra as pequenas tragédias que conta. É um escritor à antiga, romanesco, mas que trata de temas modernos. Naomi é pura luz. Ela filmou numa brecha de King Kong. Estava exausta, admite. Isso serve à personagem, você vai ver.