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Affonso Beato | Divulgação
Affonso Beato| Foto: Divulgação

Diretor de fotografia de "O dragão da maldade contra o santo guerreiro", um clássico da obra de Glauber Rocha que completa 40 anos em 2009, Affonso Beato agora assume uma inquietação bem diferente do inconformismo glauberiano, clicando as imagens da minissérie "Maysa".

Colaborador de Pedro Almodóvar (em "Tudo sobre minha mãe"), Stephen Frears ("A rainha") e Mike Newell ("O amor nos tempos do cólera"), o fotógrafo carioca de 67 anos foi convidado pelo diretor Jayme Monjardim para encontrar o visual adequado à biografia da cantora celebrizada como a musa da fossa. Exibido desde segunda-feira pela Rede Globo, o projeto de Monjardim, que é filho de Maysa (1936-1977), marca a estreia de Beato na TV.

- É um aprendizado - diz Beato, que vive nos EUA desde 1970, com incursões por Hollywood em produções como "The big easy - O acerto de contas" (1987) ou o recente "Noites de tormenta" (2008), com Richard Gere.

Seu mergulho na teledramaturgia brasileira é a descoberta de um tipo de arte que, como o cinema, é feita em escala industrial. Só que em volume diário.

- Quando se fala em TV brasileira, fala-se em novela. E, em termos de dramaturgia, a única coisa que não me agrada na telenovela é o fato de ela permanecer durante oito meses em cartaz. O resto é deslumbrante. Rodando "Maysa", eu descobri uma máquina, a televisão, capaz de produzir horas diárias de entretenimento com qualidade capaz de se comunicar com até 80 milhões de pessoas por dia. E eu pude conhecer essa máquina por dentro - diz Beato, que rodou a minissérie da Globo com duas câmeras digitais modelo Arri D-21.

Segundo Beato, "Maysa", que traça a trajetória da cantora de 1950 até sua morte, com roteiro de Manoel Carlos, teve tratamento cinematográfico.

- Eu sou um devoto de se filmar em película. Mas uma minissérie como esta não poderia ser feita com filme sem demandar um custo operacional alto para os padrões da televisão. Por isso usamos uma tecnologia digital que simula a qualidade da captação em película. Jayme rodou "Maysa" com um olhar de cinema, evitando estúdio sempre que possível - explica Beato. - Na segunda-feira, nós projetamos o material para o Carlos Eduardo Rodrigues, diretor executivo da Globofilmes, que se impressionou. O projeto de levar "Maysa" ao cinema vai acontecer.

Parceria quase começou em "Olga", de 2004

Sem projetos para filmar no Brasil nos próximos meses, Beato tem pela frente um convite para fotografar o longa "The Hive", da nova-iorquina Linda Yellen, sobre o ponto de encontro dos artistas plásticos Picasso, Chagall, Rivera, Soutine e Modigliani. Mas não há datas fechadas. Sua agenda está menos afogada do que quando Monjardim o convidou para a equipe do filme "Olga", de 2004. Na época, a parceria entre eles não se concretizou, em função de outros compromissos em que o fotógrafo estava envolvido. É hora de compensar o atraso.

- Em "Pantanal", Jayme abriu imagens de um Brasil pouco conhecido para o país inteiro. Ele foi revolucionário nesse aspecto. Em "Olga", ele recriou a Alemanha nazista no Rio de Janeiro. É um cara que gosta de desafios. Em "Maysa", ele faz uma retrospectiva de sua própria vida a partir de sua mãe.

Diretor de um documentário inédito no circuito comercial brasileiro, "Quando desperta o povo", rodado no Chile antes da deposição do presidente Salvador Allende pelos militares, em 1973 - "Quando o golpe veio, ele foi comprado por TVs do mundo inteiro", lembra -, Beato já colaborou com os mais importantes cineastas brasileiros. Passou por Júlio Bressane ("Cara a cara"), Gustavo Dahl ("O bravo guerreiro"), Cacá Diegues ("Deus é brasileiro") e Walter Salles ("Água negra"). Estreou profissionalmente em 1965, com o curta-metragem "O circo", de Arnaldo Jabor, cujo longa de estreia, "Pindorama" (1970), ele também fotografou. Isso além de outro clássico que em 2009 vira quarentão: "Macunaíma" (1969), de Joaquim Pedro de Andrade.

- Um italiano, Guido Cosulich, era o fotógrafo do Joaquim. Mas como ele teve que sair do Brasil em meio às filmagens, por problemas pessoais, eu, que era próximo do Joaquim, acabei fotografando o que faltava. Orgulho-me de ter feito a restauração de "Macunaíma" e do "Dragão" para o lançamento em DVD. Foi a forma de contribuir para que a memória deles ficasse.

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