Jess Walter, autor de A Vida Financeira dos Poetas
O personagem central do livro é a crise: no casamento, no sistema financeiro, nos jornais, na política externa... Todas as imagináveis. A crise é o estado natural do homem?
É sim, eu acredito nisso. A crise é o estado natural do homem. Mas eu também acho que há uma estrutura narrativa na crise: uma ascensão e uma queda, a arrogância seguida da derrota humilde. As crises dos Estados e sistemas podem contribuir para crises pessoais, mas também espelhá-los. Todos vivemos mais próximos do limite do que queremos admitir.
O protagonista é um anti-herói perspicaz. Em desgraça, um homem consegue perceber melhor o mundo em torno dele?
Acho que um problema é a forja para o insight. Mas eu não acho que as pessoas são necessariamente construídas para aprender lições reais. E, muitas vezes, chegamos a acreditar que algo estava certo, porque funcionou. Nós somos míopes e aprendemos devagar, mas também somos capazes de fazer mudanças profundas, e estas são as histórias que eu acho interessantes para escrever.
No final, mesmo com o desastre total, a vida segue. Mais fácil e simples. Será o momento na história em que vamos perceber que viver com menos é melhor?
Este era certamente o que eu queria que os personagens principais entendessem: que não havia nada em sua casa cara que fosse verdadeiramente necessária. Os bens, obrigações, contas, hipotecas, prestações, às vezes, nos escravizam. A única coisa que vale a pena proteger é a família. A maior lição que o mundo ocidental está enfrentando e, eventualmente, todo o mundo, é que, enquanto a educação se espalha, a taxa de natalidade cai e, se não houver um equilíbrio nesta equação, vamos destruir tudo. Nossa constante necessidade de consumir terá que dar lugar a outra coisa, algum outro ethos razoável, sustentável.
O livro é um retrato amargo de um período nos EUA. Como está o país quatro anos depois? Há mais esperança no ar?
Acho que há sim mais esperança. Mas temo que não aprendemos a lição principal e que estamos apenas de volta ao negócio de construção de bolhas, nos preparando para a próxima queda inevitável. Como Matt percebe perto do final do livro, nós só estamos trocando um vício por outro.
Os Jornais estão morrendo, mesmo dinossauros, e nós, os jornalistas, somos as pulgas que vão morrer junto?
Alguns jornais, sem dúvida, vão morrer (muitos já caíram), mas eu acho que o jornalismo vai sobreviver. Ele passou por um momento particularmente difícil e teve que se ajustar a um novo ambiente. Os velhos tempos de grandes vendas em bancas e classificados e publicidade pagando todo o conteúdo passaram. Os jornais vão precisar achar um jeito de valorizar as notícias e os textos de uma maneira a convencer as pessoas para pagar por ele. Isso é difícil, é claro. Mas acho que as pessoas querem bom jornalismo. Eu sei que eu quero. E espero para os repórteres, minha antiga tribo, que o bom jornalismo seja capaz de sobreviver.
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