Em 2015, Rogério Coelho, 41 anos, concretizou dois projetos antigos que, gradualmente, começam a designar uma nova etapa em sua carreira. Ilustrador tarimbado, ele assinou no ano passado duas graphic novels que ajudaram a elegê-lo como o desenhista nacional no troféu HQMix, o Oscar dos quadrinhos no Brasil, cuja premiação será no sábado (3), em São Paulo. Apesar disso, ele ainda não se considera um quadrinista. “Não tenho ainda uma produção consistente”, diz, humilde.
As obras que renderam o prêmio ao paulistano radicado em Curitiba são “O Barco dos Sonhos”, publicado pela editora Positivo, e “Louco – Fuga”, exemplar do projeto Graphic MSP, na qual artistas brasileiros fazem releituras dos personagens de Mauricio de Sousa para a Panini. Os dois álbuns têm origem em comum: partiram de uma ideia antiga, esboçada em um caderninho (Coelho guarda todos eles) e maturada por anos no estúdio montado em sua casa, um santuário para qualquer apreciador de quadrinhos, repleto de quadrinhos e graphic novels.
“O Barco dos Sonhos” começou a ser gerado há sete anos, após uma viagem com a família para São Francisco do Sul, litoral catarinense. “Era inverno e as praias estavam vazias. Aquele clima bucólico e solitário mexeu comigo”, lembra ele, que fez uma reflexão sobre a infância em um álbum de narrativa de imagem, sem diálogos. “É um projeto bem pessoal mesmo, minha menina dos olhos”, afirma.
“Louco”
Já a ideia de onde partiu “Louco” começou quando o ilustrador participou da Antologia “MSP 50 – Mauricio de Sousa Por 50 Artistas”, em 2011. Coelho fez uma história sobre Horácio, que abre o livro. “Pensei em histórias para o Astronauta e o Louco também, mas não funcionaram para aquele espaço. Mas a ideia para o Louco ficou e ofereci para o Sidney Gusman (editor do projeto). Em 2014, oficializaram o convite”, lembra ele.
Sua visão do personagem não é negativa, embora não ignore que ele tenha saído de um hospício. “Quis mostrar justamente que se trata de um personagem muito criativo, sem hora ou momento para dar vazão a isso. Os personagens do Mauricio são muito fortes e inteiros”, acredita.
A Graphic MSP foi o primeiro desafio como escritor. “Os estágios como ilustrador e escritor ainda são diferentes. Já dei vários passos como ilustrador e agora ainda estou avançando neste terreno”, afirma ele, que trabalha em outra HQ “ainda sem compromisso”.
O trabalho já está atingindo o mercado internacional. “O Barco dos Sonhos” será lançado nos Estados Unidos e Canadá em janeiro por uma editora americana que comprou os direitos de publicação. Coelho também ilustrou “As Gêmeas de Moscou”, livro infantojuvenil de Luis Fernando Veríssimo, e “Books Do Not Have Wings”, de Bryanne Barnes, que sai pela editora americana Sleeping Bear Press no próximo mês.
O HQMix não é o primeiro prêmio do desenhista. Ele ganhou o Jabuti em 2012, como autor na categoria livro didático e paradidático.
Adeus, seguros!
Assim como muitos contemporâneos, Rogério Coelho teve seu início na Gibiteca de Curitiba. Leitor dos quadrinhos da Disney, Marvel, DC e Turma da Mônica, ele já tinha cadernos repletos de desenhos quando fez os primeiros cursos. “Mas eu estava muito preso à ideia dos super-heróis. Quando cheguei à Gibiteca, conheci os quadrinhos europeus e os mangás e outras pessoas que faziam o mesmo que eu”, relembra.
Agenda
Rogério Coelho estará na Bienal de Quadrinhos de Curitiba no sábado (10 de setembro). Seu filho, Pedro, também fará participação.
Coelho chegou a fazer dois anos de licenciatura em Desenho e, antes de um bom empurrão dos colegas, não encarava a habilidade com os traços como possibilidade de carreira. Para se manter, foi office boy, pintor de paredes casa, estagiário no Banestado, vendedor de pães (que a mãe fazia) e professor de desenho, durante a faculdade.
Mórmon, ele passou dois anos em missão pelo centro-oeste brasileiro e, quando voltou, durou pouco no emprego de vendedor de seguros que um amigo lhe arranjara. “Logo surgiu a oportunidade de fazer estágio num estúdio de ilustração de uns amigos (Antonio Eder, José Aguiar e o Luciano Lagares). Eles foram muito generosos comigo. Acreditaram mais no que eu fazia do que eu mesmo. Não fosse por eles talvez eu ainda estivesse vendendo seguros”, relembra, agradecido.
O filho do meio, Pedro, 12 anos, também já está nas artes gráficas. Assinou com o pai o livro “O Dia de Ver Meu Pai”, de Vivina de Assis Viana e é ilustrador da Seção Ideias da Folhinha. No ano passado, venceu o Salãozinho de Humor de Piracicaba na categoria 11 a 14 anos.
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