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Recife – Foi uma emoção e tanto ver Árido Movie no 10º Cine PE, que terminou sábado à noite. O filme de Lírio Ferreira (protagonizado pelo paranaense Guilherme Weber), integrou a mostra competitiva do festival realizado em Recife. Empurrado por aquele público entusiasmado, o filme cresceu na primeira hora, os 30 ou 40 minutos finais é que continuam problemáticos.

O júri ignorou isso e atribuiu uma enxurrada de prêmios – as estatuetas chamadas de Calungas – à produção pernambucana. Dois foram acima de qualquer suspeita, melhor ator coadjuvante para Selton Mello e melhor montagem para Vânia Debs, mas a esses se somaram os troféus de filme, diretor, fotografia (Murilo Salles) e o prêmio da crítica. Foram seis prêmios, no total, mais três para Tapete Vermelho, de Luiz Alberto Gal Pereira – ator, Matheus Nachtergaele; atriz, Gorete Milagres; e roteiro (Rosa Nepomuceno). A Filomena de A Praça É Nossa estava feliz da vida. Embora tenha o maior carinho pela figura que interpreta na TV, Gorete sentia-se um pouco estigmatizada como atriz de uma só personagem. O prêmio no Recife como que a alforriou.

O júri também atribuiu os prêmios de direção de arte e edição de som para Veias e Vinhos, de João Batista de Andrade; e dividiu seu prêmio especial entre o documentário Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim, e a animação Wood & Stock, de Otto Guerra, que também ganhou o prêmio de trilha e um Calunga que ninguém entendeu, o de melhor atriz coadjuvante para Rita Lee, que emprestou sua voz à personagem Rê Bordosa.

Como sempre, o caloroso público do Recife foi o grande destaque do 10º Cine PE, mesmo que este ano o Cine-Teatro Guararapes poucas vezes tenha atingido a sua lotação integral de mais de 3 mil lugares. Face a esse público tão atuante, o vitorioso da noite não agüentou. Lírio Ferreira poderia ter simplesmente festejado a superpremiação, mas foi lúcido e crítico. "A quem interessa o cinema brasileiro?", perguntou.

Existe um cinema ousado e criativo que se faz hoje no Brasil e ele citou Beto Brant, Cláudio Assis e Antônio Carlos Belmonte. Qual é o sentido de ousar e criar, quando filmes como O Veneno da Madrugada, de Ruy Guerra, e Bens Confiscados, de Carlos Reichenbach, fazem, em duas ou três semanas em cartaz, 3 mil e 2 mil espectadores, o que é menos que uma noite plena no Recife. Lírio pediu que o público refletisse sobre o assunto. É um pedido que se transfere agora para o leitor. Existe um belo, grande e forte cinema brasileiro, mas ele continua estrangeiro no próprio mercado, formatado para a produção hegemônica de Hollywood.

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