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É sempre a mesma lenga-lenga. Toda vez que lançam um filme baseado em uma história em quadrinhos, gasta-se tinta, papel e bytes para discutir o quanto a adaptação é fiel ao original. Fãs das HQs se mobilizam para reclamar que, no cinema, determinado vilão não morreu como deveria, a roupa do herói não é igual a do original, o par romântico dele é moreno e não loiro, etc. Para ficar em exemplos recentes, foi assim com Homem-Aranha, Quarteto Fantástico e Batman Begins. Constantine, que deve chegar às locadoras na próxima semana, recebeu tratamento semelhante.

O filme de Francis Lawrence baseia-se na HQ Hellblazer, sobre o detetive John Constantine, inglês com senso do humor típico de seus conterrâneos, fumante alucinado que testa os limites da própria saúde (experimenta o estágio terminal de um câncer de pulmão) e trabalha como detetive "especialista em eventos sobrenaturais". Reza a lenda que ele teria descido ao inferno e voltado à Terra. Seus poderes – já que todo herói precisa de alguns – são a capacidade de ver anjos, demônios e saber o que fazer para extirpar o mal da face de Los Angeles. É, enfim, uma espécie de mago loiro. Mais ou menos como o cantor Sting – que inspirou Alan Moore a criar o personagem.

Keanu Reeves não é loiro nem inglês – e tem nada a ver com Sting. O que resume a insatisfação de um sem-número de fãs indignados. De qualquer forma, o Neo da trilogia Matrix foi o escolhido para assumir o papel do mago detetive que ajuda uma policial a decifrar o suposto suicídio de sua irmã gêmea. Constantine é, a partir de suas pretensões, um bom filme. Cheio de efeitos especiais, demônios e explosões, mais uma boa atriz – Rachel Weisz, estrela do novo trabalho de Fernando Meirelles, O Jardineiro Fiel – para fazer par com Reeves e um bom antagonista, Peter Stormare (Fargo) no papel do belzebu.

A discussão sobre a fidelidade de adaptações cinematográficas baseadas em quadrinhos terminou com o lançamento de Sin City – A Cidade do Pecado. O filme de Robert Rodriguez consegue reproduzir o conteúdo da HQ de Frank Miller tão bem que o resultado é uma aberração, algo entre o cinema e os quadrinhos que não chega a ser nenhum dos dois. É como se o filme esvaziasse a HQ de significado sem criar outro no lugar.

HQs (e livros) não são roteiros de cinema. Constantine pode "trair" sua origem, mas isso está longe de ser um defeito. GGG

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