Rio de Janeiro –A abertura do Festival do Rio 2007, no Cine Odeon BR, quinta-feira (20) à noite, teve tom de protesto. Tudo por conta do enorme impacto de Tropa de Elite, o filme da abertura.

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Walkiria Barbosa – diretora-executiva de "mercado" do Festival do Rio – transformou a cerimônia num ato de afirmação contra a pirataria. "Esta é a maneira correta de ver um filme", ela disse (e repetiu), apontando para a telona.

"Pirataria é crime; assistir a DVDs piratas é ser conivente com o crime", disse. É um pouco o discurso do próprio filme de José Padilha.

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Tropa de Elite traz notícias de uma guerra particular (para pegar carona no título do documentário famoso de João Moreira Salles) – polícia versus tráfico, não necessariamente mocinhos contra bandidos. A violência urbana, em todo o seu horror. Numa cena impactante, Wagner Moura, na pele do capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bopa ), irrompe na favela e mata a sangue-frio um dos traficantes. Depois ele pega o ‘boyzinho’ de classe média, chafurda o nariz dele no sangue do traficante morto e pergunta quem matou. O garoto tenta safar-se – "Não vi, não sei." Wagner o esbofeteia e grita – "Foi você."

A polícia, no caso, está fazendo o serviço sujo do topo da pirâmide social brasileira, que alimenta o tráfico para consumir drogas, mas, no fundo, acha-se vítima da violência que não deixa de patrocinar.

Em Cidade de Deus, há cinco anos, Fernando Meirelles filmou a violência urbana do ângulo dos traficantes. José Padilha já filmou a violência do ângulo dos excluídos - no documentário Ônibus 174, a intervenção policial terminava sendo desastrosa. Agora, a ficção.

Wagner Moura comanda essa divisão do Bope. O capitão pode ser excepcionalmente bom no que faz – mata, tortura e combate o tráfico com a mesma truculência que dedica aos colegas corruptos –, mas paga um preço por isso. Sua vida está em frangalhos e, para reconstituir a família, ele busca um sucessor. O filme descreve o processo que forja um homem para a batalha. Talvez o grande problema de Tropa de Elite não seja o filme em si, mas algo que escapa ao controle do diretor: a reação do público.

Padilha diz que quis fazer um filme contra o tráfico e crítico do Bopa. Não é assim que o público recebe a história. O capitão de Wagner Moura é o mocinho. O público aplaude quando ele mata. Podem-se fazer muitas críticas a Tropa de Elite – o filme espetaculariza a violência, é o retrato pessimista de uma sociedade desumanizada. Mas ele é espetacularmente realizado – fotografia de Lula Carvalho (Walter que se cuide...), montagem de Daniel Rezende, atuação poderosa de Wagner Moura.

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