Como terminou
Fim do grupo é controverso
A influência da Contrabanda na música curitibana é evidente. De suas entranhas nasceram o Beijo AA Força, Maxixe Machine e Opinião Pública (as três ainda na ativa).
As letras de poesia sofisticada com temas tabu, como incesto e drogas, forjaram a maneira de compor da geração seguinte em Curitiba.
As circunstâncias e, principalmente, o timing do fim da banda, porém, ainda dividem os contrabandistas. Para Rodrigão, tudo acabou na hora certa: "A Contrabanda não fazia tanto sucesso quanto achávamos que ela realmente fazia".
Para Viralobos, porém, "faltou confiar no taco". Para ele, fica a sensação de ter perdido o bonde da explosão do rock nacional, já que o auge da Contrabanda aconteceu ao mesmo tempo da ascensão da Blitz o grupo liderado por Evandro Mesquita estourou em 1982 com o hit "Você Não Soube Me Amar" e antes que bandas de outras capitais tomassem conta da indústria fonográfica do país.
"Tínhamos de ter nos mudado para o Rio. Tentei convencer a todos, mas não aconteceu e eu fui tocar a minha vida", afirma.
"A Contrabanda foi uma experiência tão bem-sucedida que não resistiu ao primeiro fracasso. O que nós fizemos na época, é melhor do que tudo o que fizemos depois."
Opinião
Fernando Severo, cineasta
Como surgiu um show que marcou época
No início dos 1980, o panorama musical curitibano ainda era pouco diversificado, sem grandes inovações. Por isso, me surpreendi quando recebi convite do Fernando Tupan para dirigir um show da Contrabanda. A ideia era criar algo com forte presença cênica, inovador numa época em que a maioria dos músicos se limitava a subir no palco e tocar. Como a proposta da Contrabanda era uma salada multicultural, curti a ideia de misturar as coisas, o que incluía figurinos ao encargo da estilista Branca Aurora e cenários que talvez tenham sidos os primeiros criados especialmente para um show local.
Caprichamos no programa, que inovou ao trazer as letras das músicas, e na iluminação, que usava todos os recursos disponíveis no Teatro Guaíra, para criar uma ambientação especial para cada música. Para batizar tudo isso, lembrei de conversa com o cineasta Beto Carminatti, que lera um manifesto onde Glauber Rocha conclamava que "precisamos de um novo incêndio romântico!". Daí foi fácil chegar ao título Por um Novo Incêndio Romântico, que além de dar nome ao show, virou título de uma peça teatral do Felipe Hirsch, anos mais tarde.
Disco
Punk a Vapor
Contrabanda. Toca Discos Voadores. Lançamento previsto para a primeira quinzena de dezembro. Rock.
Para quem não compartilhou com eles o turbulento período entre dezembro de 1981 e junho de 1983, a história da Contrabanda parecia uma lenda boêmia recontada pelos bares a respeito de uma banda inovadora e ousada, que unia inconsequência juvenil à pretensões artísticas improváveis, que seriam vanguarda até na Curitiba dos dias atuais.
Trinta anos depois da dissolução após um acidentado show no Grande Auditório do Teatro Guaíra, a Contrabanda resolveu juntar as canções e os cacos para finalmente gravar seu primeiro álbum, Punk a Vapor.
Gravado no estúdio da Toca Discos Voadores (antiga Toca do Coelho), com a produção coordenada pelo baixista Renato Quege, o disco está em finalização e tem previsão de lançamento para o início de dezembro.
"Acho que fizemos o disco que queríamos ter feito naquela época. Essas músicas precisavam ser gravadas, e com o que sabemos hoje conseguimos o melhor resultado possível", comemora Quege.
Da formação original, além do baixista, estão presentes os vocalistas Rodrigão Barros del Rey e Sérgio Viralobos (principal letrista do grupo), Walmor Goes (guitarra) e Oswaldo "Foguinho" Baby (bateria). O guitarrista Luiz Antonio Ferreira não participou das gravações por incompatibilidade de agenda.
No embalo, será lançado um documentário dirigido por Fabio Biondo que retrata a trajetória da Contrabanda e os bastidores da gravação do álbum. Também está previsto o (ainda sem local definido) primeiro show da banda desde o fim das atividades do grupo.
Do Cefet ao Disco Voador
A Contrabanda surgiu no começo dos anos 1980 numa época de pouca informação internacional. Para chegar ao som da banda (apesar da clara influência da MPB de vanguarda dos 1970), os músicos, na faixa dos 20 anos, sabiam melhor o que não queriam fazer: o rock stoneano do Blindagem que fazia a cabeça da moçada curitibana.
Olhando para trás, a banda reconhece que o resultado lembra o pós-punk dos grupos ingleses da mesma época. "Foi antinatural. O natural é que você fosse punk e depois fosse pós-punk. A gente inverteu a ordem, por falta de informação", diverte-se Rodrigão. "Na atitude, a gente era punk a vapor, surgidos do nada", completa Viralobos.
A primeira aparição foi em um Festival de Música do Cefet, em 1981, e teve a "mão" do jornalista e empresário Fernando Tupan.
Tupan "deu um jeito" de que no júri estivessem amigos da banda, como o poeta Thadeu Wojchiechowski e o artista plástico Retamozzo. A banda ganhou todos os prêmios e notoriedade na mídia local.
Depois do começo auspicioso, o segundo passo foi um show no miniauditório do Teatro Guaíra, chamado Por um Novo Incêndio Romântico, dirigido pelo cineasta Fernando Severo. Lotação esgotada em todas as noites. A partir daí foi uma série de apresentações no Paraná e Santa Catarina. Como passo seguinte, a Contrabanda agendou uma turnê ao Rio de Janeiro.
No primeiro show, "aproximadamente uma pessoa na plateia", o jornalista Hermano Vianna assistiu à apresentação. "Tocamos como se fosse para um estádio lotado", lembra Viralobos. Nas outras duas noites, casa cheia e para coroar um show de grande sucesso no Circo Voador.
Entre ficar no Rio e voltar para casa, a banda optou por um grande show no Guairão, que, cheio de desacertos, marcou o fim do grupo e parecia relegar suas canções ao esquecimento. Algo que a gravação de Punk a Vapor veio evitar.