| Foto: Bruno Bueno Requena

Eram 20:23 quando cheguei a frente do teatro Bom Jesus. Os portões ainda não estavam abertos, mas já havia uma multidão de pessoas inquietas em plena euforia, e, por que não, em fortes contrações. Em um canto iluminado perto da escadaria do teatro encontro três simpáticas senhoras que me dizem suas expectativas, em assistir pela primeira vez Debora Falabella: "Eu acho ela uma ótima atriz. Eu vim mais por causa dela", diz Ester Troibi no meio da multidão de espectadores.

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Logo avisto um moço, aflito, falando com todos em completa euforia, ele chega a mim e diz: "você tem algum ingresso sobrando?". Infelizmente digo que não, mas o rapaz não desiste. Até que, enfim, depois de uma incessante procura, consegue seu passaporte para Contrações. "Eu quase não consegui entrar, falaram pra eu vir na frente do teatro e pedir e eu consegui, graças a Deus. A sensação de assistir a Débora ao vivo é sem descrição pra quem mora no interior". Era Cremilson Jeremias Estefanini, 28 anos, que veio de Francisco Beltrão, no sudoeste do Paraná, especialmente para ver a estreia da peça.

Casa lotada, pessoas acomodadas em seus bancos, cenário exposto e cortinas abertas. Mesmo antes de começar a apresentação, todos os olhos ficaram atentos na atriz, que aguardava no palco, descontraída, o inicio do espetáculo.

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A apresentação é de uma coesão e de uma inteireza magnífica, os aspectos estéticos estão impecáveis. O ponto forte é a estrondosa sonoplastia que costura e intensifica as palavras e o silencio do espetáculo, e nos surpreende quando Débora Falabella pega as baquetas de uma bateria e a toca com fúria e expansiva dramaticidade, levando o público ao êxtase.

A peça começa com Débora, funcionária, e a brilhante atriz Yara Novaes, que faz o papel da gerente da empresa e explica à personagem de Débora que as políticas do local não permitem atos com teores românticos entre funcionários, indagando-a a um possível afeto a outro funcionário. Débora nega e a cena vai se repetindo várias vezes, de forma persistente e com perguntas cada vez mais incisivas, até que Emma (Débora) acaba revelando suas afeições com outro funcionário.

A partir daí o espetáculo vai da comédia ao drama em uma velocidade incrível, fazendo o publico gargalhar e se espantar em questão de segundos, com a tensão e desconforto criadas pela exposição da personagem. Em incessantes questionamentos, a gerente persegue Emma, até que descobre todos os detalhes de seu afeto com o funcionário, perguntando de forma invasiva e mascarada com certa ironia, que leva o público a gargalhadas."Contrações" é fluida e coesa, tem interpretações impecáveis, coerentes e pertinentes, trazendo uma reflexão sobre até que ponto temos o controle de nossas próprias escolhas. Ao final, as luzes se apagam e uma sinfonia de aplausos impera no teatro, mostrando a satisfação e o privilegio de assistir duas grandes atrizes em completo entrosamento, o domínio perfeito do palco e a teatralidade necessária para assegurar um grande espetáculo.

Ao final, pergunto a Yara Novaes sobre a reação da plateia curitibana. "Esse público curitibano é muito bacana, considerado um termômetro para outras peças e companhias. Um público quente e respeitoso com o palco", contou a atriz. Com a maior gentileza, Débora e Yara atenderam os fãs que aguardavam ansiosos por uma foto e uma palavrinha com as duas atrizes, encerrando a noite em grande estilo.