Aos 71 anos, Francis Ford Coppola considera-se, enfim, um homem livre. O diretor da saga do Chefão e de filmes como "A Conversação" e "Apocalypse Now" usa o dinheiro que ganha na produção de vinhos para financiar a atividade cinematográfica. Não depende mais de produtores nem estúdios. Enfim, livre - foi o que Coppola veio dizer à imprensa do País, reunida ontem no Centro de Convenções da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). O assunto predominante foi a estreia, dia 10, de "Tetro".

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O novo Coppola trata de um tema recorrente na obra do diretor - a relação pai/filho. Ela está no centro de alguns de seus clássicos, inclusive nos filmes que compõem a trilogia do Chefão. Há uma revelação que é melhor não antecipar para não tirar a graça de "Tetro". O filme trata da admiração de um jovem pelo irmão mais velho, a quem reencontra após muito tempo. O próprio Coppola escreveu o roteiro.

"Essa parte é autobiográfica", esclarece o autor. "Quando garoto venerava meu irmão, que era cinco anos mais velho. Ele me parecia o mais inteligente, o mais brilhante. Queria ser como ele. Achava que seria um sucesso. O acaso da vida quis que ficasse mais famoso que ele, o que foi sempre um motivo de espanto para mim."

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No filme, os irmãos têm um pai que é músico - outro elemento autobiográfico. O pai de Coppola, Carmine, era compositor. A autobiografia termina aí. "É um filme muito pessoal, como eu acredito que deva ser." Por conta disso, ele revela uma admiração sem limites pela filha diretora, Sofia. "Quando jovem, ela foi modelo. Estava na capa de revistas, queria ser pintora. Um dia, Sofia me perguntou se não estava sendo diletante, se não deveria tomar um rumo na vida, focar num objetivo. Disse-lhe que o benefício da juventude é não ter de focar em nada, que aproveitasse aquela fase."

Coppola termina atualmente um filme de terror que terá duas cenas em 3D. O formato não lhe interessa particularmente. Ele prefere falar do preto e branco e da cor, que utiliza em "Tetro". "O preto e branco, ao contrário do que muita gente pensa, não é ausência de cor. Exige sensibilidade para transmitir as diferenças de cores por meio de gradações de luminosidade e claro/escuro." Ele fez filmes de grande sucesso e sabe que o cinema tem um lado industrial muito forte. Milhões de pessoas dependem economicamente da atividade. Filmes devem dar dinheiro. Isso não é incompatível com a pesquisa. O cinema que lhe interessa é aberto à invenção, como "Tetro". E o que mais lhe atrai num filme? "O roteiro e a interpretação." A alma do cinema, se o cinema tem alma, passa por aí. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.