Em vez do esquema voz e violão, que tal apostar em quatro violões? Essa foi a sugestão de Ney Matogrosso aos produtores do Canal Brasil, que lhe encomendaram um show "com liberdade total" para virar especial de tevê. Proposta aceita, a apresentação foi ao ar no fim do ano passado e acabou se transformando em CD e DVD. E chega hoje a Curitiba, no Teatro Guaíra, como parte de uma turnê iniciada meio por acaso.
Ney explica: "A gravadora pediu para eu fazer alguns shows, só para lançar o disco. Primeiro cantei no Baretto, em São Paulo, um restaurante classe AA, apenas para 60 pessoas. De início, temi. Mas vi que alguma coisa aconteceu ali, as pessoas gostaram e respeitaram aquele acontecimento. Em seguida, fiz o show num palco de verdade, em Portugal, e cheguei à conclusão de que o repertório realmente funciona bem".
O interesse do público e dos contratantes pelo projeto obrigou o intérprete a adiar seu próximo álbum de canções inéditas, no qual contará com a colaboração de compositores emergentes. Mas a espera pode valer a pena para os fãs mais fiéis. Canto em Qualquer Canto, título do espetáculo, traz Ney Matogrosso livre, leve e solto, revisitando temas obscuros de sua discografia, novidades e pérolas da MPB que sempre quis cantar. No repertório, músicas como "Amendoim Torradinho" (Henrique Beltrão), "Oriente" (Gilberto Gil), "Bamboleô" (André Filho), "Tanto Amar" (Chico Buarque), "Já Te Falei" (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte e Davi Carvalho).
No mais, o show é uma boa oportunidade para conferir o talento de quatro feras das cordas: Pedro Jóia (violão, alaúde), Ricardo Silveira (guitarra, violão), Marcello Gonçalves (violão de sete cordas) e Zé Paulo Becker (violão e viola).
Sem contrato com a gravadora Universal desde o ano passado, Ney agora negocia disco a disco com a companhia. Diz que, dessa forma, tem maior autonomia artística. Mas não vê problemas em se transferir para um selo independente, caso recente dos medalhões Maria Bethânia, Gal Costa e Chico Buarque. "É um processo natural, pois a indústria está completamente desestruturada. E não em termos de dinheiro, e sim de uma distribuição decente", afirma. De acordo com o cantor, seus CDs não chegam mais a todos os lugares. "A rede extensa que existia antes está reduzida às grandes lojas, tipo Fnac. E apenas poucas cidades têm lojas desse tipo", lamenta.
Ney também desmistifica o recorrente argumento, por parte das gravadoras, de que a pirataria é a grande culpada pela crise do setor. "Eles ganharam muito dinheiro nos anos 90, mas não se organizaram direito. A pirataria foi só a pá de cal nessa história toda".
Sempre atrás de renovação vide a bem-sucedida parceria com o grupo carioca Pedro Luís e a Parede , o cantor se mostra surpreso com o interesse crescente da garotada pela obra de seu antigo grupo, o Secos e Molhados. "Não sei explicar o motivo desse culto. Mas o Dan Nakagawa, um dos novos compositores com quem venho trabalhando, diz que não pára de ouvir o Secos, porque a sonoridade é muito moderna. Deve ser por isso", arrisca. Moderno é o próprio Ney, que, do alto de seus 64 anos, continua inquieto como antes.
Serviço: Ney Matogrosso no show Canto em Qualquer Canto. Hoje, às 21 horas, no Teatro Guaíra (Pça. Santos Andrade s/n.°). Ingressos a R$ 70 (platéia), R$ 60 (primeiro balcão) e R$ 40 (segundo balcão). Informações: (41) 3304-7900.
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