O rebanho da Cow Parade de Curitiba será recolhido nesta quarta-feira (31). Durante dois meses de exposição e algumas baixas duas vacas foram roubadas e uma foi severamente avariada o evento provocou muitas opiniões, mas de nenhuma unanimidade. A seção de cartas da Gazeta do Povo recebeu muitas manifestações condenando a depredação e interferência nas obras.
Mas, houve quem condenasse o próprio evento, como o artista plástico Celito Medeiros, que, em sua missiva ao jornal, escreveu que "somos bem mais criativos para ter que nos aliarmos aos modismos importados".
A reportagem conversou com alguns artistas e estudiosos na expectativa de fazer um balanço da passagem do evento por aqui. Em comum, as opiniões questionam se o evento é propriamente uma manifestação de arte ou é marketing e publicidade disfarçados.
"Não sei se o evento pertence necessariamente ao universo da arte, a não ser que a arte tenha se aproximado da espetacularização. Penso que é um evento publicitário, no sentido de tornar pública uma idéia de permuta e de troca, de retorno financeiro, ou alguma outra espécie de retorno. É um evento que funciona dentro dessa lógica, que prevê a ocupação de um espaço público e uma projeção na mídia. Vem todo formatado, com três tipos de vacas. Acaba tornando-se um acontecimento de comunicação social", afirma o historiador da arte, professor e curador Artur Freitas. O estudioso avalia que a Cow Parade também deu projeção a alguns artistas e suscitou algumas questões. "O furto e a pichação são uma reação legítima da cidade a um evento que ocupou o espaço das pessoas", afirma.
O artista curitibano Goto afirma que a Cow Parade é "que nem a soja transgênica importada da Monsanto. É um modelo pronto que vem de fora e que não dialoga com o espaço específico. A concepção de colocar na rua e achar que é um projeto de arte contemporânea é um equívoco", declara.
Mesmo as vacas que receberam referências locais, como a "Vacabonde", em alusão ao bondinho da Rua XV, não representam um conceito interessante enquanto intervenção pública, de acordo com Goto. "A vaca como forma e matéria já vem pronta. Ela não dialoga enquanto forma e matéria, nem como representação social. Um trabalho colocado na rua é diferente de um trabalho criado a partir da rua. A liberdade é trabalhar com a superfície da vaca, que é basicamente transformar a vaca numa pintura. Ou seja, não tem liberdade processual. O projeto como um todo já é furado", afirma.
O artista plástico Geraldo Leão concorda. "A vaca funciona, a priori, como um suporte que vai receber um tratamento. Você trata o objeto de uma forma conservadora", aponta o artista. Leão acompanhou, por meio de amigos que residem nos EUA, as discussões levantadas a respeito do projeto ainda nos anos 90. "Eu nunca tive a noção da dimensão dessa iniciativa, nem de como ela funciona, mas, avaliando pelo resultado final, vejo um entendimento de arte equivocado, porque não aborda questões básicas da arte contemporânea", afirma.
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