O ponto de partida da comédia dramática Tudo Acontece em Elizabethtown é insólito, mas não totalmente desprovido de graça. Drew Baylor, personagem vivido por Orlando Bloom (de Cruzada), é um designer de produto que cai em desgraça quando uma de suas criações, um novo modelo de tênis, torna-se "o maior fracasso da história dos artigos esportivos". Nunca fica claro, entretanto, por que os sapatos foram rejeitados de maneira tão feroz pelo mercado consumidor.

CARREGANDO :)

Poucos sabem que, em sua primeira versão, o filme de Cameron Crowe, vencedor do Oscar de melhor roteiro original por Quase Famosos, explicava o enigma. Os tênis assoviavam música.

Quando o longa-metragem foi exibido no Festival de Toronto (Canadá), espécie de prévia da temporada de prêmios norte-americana, ninguém entendeu a lógica de invenção do protagonista – e, tampouco, o porquê de Crowe, um roteirista experiente, ter um dia acreditado que alguém poderia ser capaz de uma invenção tão bizarra. Por mais que o diretor, ex-crítico da revista Rolling Stone, sempre faça inúmeras referências musicais em seus filmes, a piada não funcionou e o cineasta decidiu tirá-la da edição final, que ficou 18 minutos mais curta. Ainda assim, o filme continuou com duas horas de duração, longo demais para uma comédia que se pretende leve.

Publicidade

Assim como fez em Jerry Maguire – A Grande Virada (com Tom Cruise) e Quase Famosos, Crowe volta a lidar em Tudo Acontece em Elizabethtown com o território romântico, centrado na figura de um personagem masculino em crise de identidade. No caso, Drew Baylor, a exemplo de Maguire, é um jovem prematuramente bem-sucedido que vê seu mundo cair quando um passo em falso coloca sua competência sob suspeita. Para piorar a situação, ele tem de lidar com a perda do pai, morto durante uma visita à família no estado de Kentucky.

Como tem de tomar providências em relação ao funeral do pai, Baylor, residente em Seattle, na Costa Oeste dos EUA, é forçado a atravessar o país para chegar à terra natal paterna, para ele um mundo desconhecido. Durante o vôo, conhece Claire (Kirsten Dunst, da série Homem-Aranha), uma jovem comissária de bordo impulsiva e falante que vai mexer com a vida do designer.

Indeciso entre analisar a crise existencial do protagonista e contar uma história de amor, Crowe não consegue o mesmo tipo de magia proporcionada por seus filmes anteriores, leves porém sensíveis retratos humanos. A narrativa é frouxa, por vezes arrastada, e, também por conta da falta de carisma de Orlando Bloom, não envolve o espectador como deveria.

Há, no entanto, alguns momentos que merecem ressalva. A longa conversa entre Baylor e Claire ao celular, reproduzida quase em tempo real, é um achado do roteiro. Bem-escrita, tem o encantamento que costuma povoar os filmes de Crowe. Outro ponto alto é o discurso proferido pela mãe do protagonista numa cerimônia em memória ao marido morto. Susan Sarandon (de Os Últimos Passos de um Homem) dá um show de intepretação, mesclando humor e emoção como só os grandes atores sabem fazer. É um bom motivo para conferir Tudo Acontece em Elizabethtown. GG1/2