Nos anos 60, assistir a um show de Nelson Gonçalves seria uma atitude impensável a um jovem de cerca de 20 anos. O cantor integrava o repertório dos pais dessa geração, que fazia de tudo para romper com a "caretice" da família. Hoje, o movimento é inverso. Há pouco tempo, o sessentão Chico Buarque atraiu centenas de jovens aos shows de lançamento de seu novo disco, Carioca. O escritor Pablo Capistrano, filho de pais que participaram ativamente dos movimento da contracultura, tem uma explicação para isso. "Ir ao show do Chico é reencontrar o ídolo do pai. Hoje, vivemos outro tipo de ansiedade. Antes, os jovens queriam romper com o passado para construir um futuro. Isso incluía seus pais. Hoje, eles se sentem abandonados e, por isso, querem reencontrar os pais", arrisca Capistrano,
Para o escritor, esse resgate de referenciais do passado é o único caminho para que a arte volte a ser inovadora como na década de 60. "Era um tempo de pós-guerra, em que havia uma expectativa de um futuro melhor. As pessoas queriam inventar o novo", explica.
Contemporâneo deste período, Muggiatti não vê muitas perpectivas para a arte, encurralada em um "beco sem saída" desde que James Joyce, na literatura, Ornette Coleman, no jazz, e Jean-Luc Godard, no cinema, entre outros artistas geniais, puseram a arte de cabeça para baixo. Depois deles, o cenário parece desolador para os pobres mortais do século 21, até mesmo para quem viveu aquele período efervescente. "A arte é o reflexo de seu tempo. Hoje, vivemos um esvaziamento cultural. Os artistas dos anos 60 e 70 se reinventaram, souberam acompanhar os tempos. Mas, seus discos foram escasseando, o que demonstra falta de motivação. O próprio Chico se voltou para a literatura", diz Muggiatti.
A solução, diz Capistrano, parece ser atualizar o passado. "Hoje, Chico é tão atual quanto era antes", afirma o escritor. Isso é visível na literatura, exemplifica, que retoma a narrativa na prosa. "A nova geração quer contar uma história. Para um cara dos anos 60, isso é uma caretice sem fim", diz.
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