R$ 80 mil são gastos mensalmente pelo Instituto Curitiba de Arte e Cultura para manter os grupos artísticos da Prefeitura. O valor corresponde a cerca de 15% do orçamento mensal da organização, que é responsável pela gestão da área de música da Fundação Cultural de Curitiba. Apenas R$ 20 mil anuais por grupo são destinados a realização de apresentações.
Grupos
Conheça os principais corpos estáveis mantidos pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC):
Camerata Antiqua de Curitiba (Coro e Orquestra da Câmara)
Fundada em 1974 pelo maestro Roberto de Regina e pela cravista Ingrid Seraphim, a Camerata conseguiu ser oficialmente contratada pela FCC em 1985. A maioria de seus membros é formada por estatutários e celetistas, e um pequeno grupo é formado por autônomos, como nos grupos ligados ao Conservatório de MPB. A renovação do quadro é uma preocupação para os atuais músicos.
Coral Brasileirinho
Criado em 1993 para trabalhar música brasileira com crianças de 8 a 13 anos, o grupo é formado por 25 crianças selecionadas de acordo com suas aptidões cênicas e musicais. O coro apresenta espetáculos temáticos, como o especial comemorativo ao centenário de Luiz Gonzaga em 2012. Em 2014, o Brasileirinho se debruça sobre a obra de Dorival Caymmi.
Orquestra à Base de Corda
Formado em 1998 por Roberto Gnattali e hoje dirigido pelo violonista João Egashira, o grupo hoje conta com baixista, pianista, bandolinista, violinista, violonista, cavaquinhistas, violeiro e percussionista. Com arranjos próprios, já tocou ao lado de nomes como Paulinho da Viola, Lucina, Zeca Baleiro e Paulinho Moska, além de gravar com a cantora Consuelo de Paula.
Orquestra à Base de Sopro (OABS)
Também de 1998, o grupo já tem seis títulos na discografia e gravou ao lado Arrigo Barnabé, André Mehmari e Gabriele Mirabassi. Atualmente prepara um espetáculo com obras do renomado Egberto Gismonti, também com arranjos próprios. Tem mais de 15 membros, entre flautistas, clarinetistas, saxofonistas, trompetistas e outros instrumentistas de sopro.
Vocal Brasileirão
Idealizado pelo compositor e maestro Marcos Leite (1953-2002) em 1994, o grupo vocal especializado em MPB é atualmente dirigido por Vicente Ribeiro, que comandou apresentações ao lado de artistas como Boca Livre e Ivan Lins. É formado por 12 cantores, entre sopranos, contraltos, tenores, baixos e barítono.
Músicos dos grupos artísticos mantidos pela Prefeitura, em especial os ligados ao Conservatório de MPB de Curitiba, vivem um momento de incerteza quanto à continuidade de suas atividades. Os contratos de integrantes da Orquestra à Base de Corda, Orquestra à Base de Sopro, Vocal Brasileirão e Coral Brasileirinho, já precários, venceram em agosto e não foram renovados.
O Instituto Curitiba de Arte e Cultura (Icac), organização social responsável pela gestão da área musical da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), aguarda recursos para um novo aditivo de contrato. A FCC, de acordo com seu presidente, Marcos Cordiolli, fará uma proposta definitiva após um "realinhamento fiscal", que pode implicar em uma "reestruturação" destes grupos. "A Prefeitura está passando por crise fiscal e não estamos conseguindo fazer alocação de recurso nas proporções necessárias", diz Cordiolli. "Mas não vamos em hipótese alguma fechar os grupos. O que talvez tenha de acontecer é um processo de reestruturação em sua forma de relacionamento. Mas vamos fazer isso de maneira dialogada. Mesmo que tenhamos de tomar medidas duras, não está previsto desligamento de pessoas", diz.
De acordo com o presidente do Icac, Nilton Cordoni, o estudo de alternativas passa por uma reavaliação da sustentabilidade desses grupos, incluindo orquestra e coro da Camerata Antiqua de Curitiba único caso em que os músicos têm vínculo empregatício com a Prefeitura. "Bancar os músicos mensalmente, como se fossem funcionários, está se tornando bastante difícil", diz o gestor, que estima em R$ 70 mil a R$ 80 mil os gastos mensais do Icac com o pagamento dos profissionais. O valor corresponde a cerca de 15% do orçamento mensal do instituto. Já para a produção de apresentações, cada grupo dispõe, em média, de R$ 20 mil por ano. "É um valor irrisório. Manter os grupos interessa desde que haja recursos para que se realizem shows", avalia.
Entre as ideias discutidas estão a busca por recursos privados e o redirecionamento da carreira dos grupos para atuarem fora de Curitiba, onde poderiam arrecadar seus próprios recursos.
Importância
Procurados pela reportagem, os diretores artísticos defenderam o papel de seus grupos para a cultura curitibana.
Milton Karam, diretor cênico do Coral Brasileirinho há 21 anos, diz que o grupo, ao trabalhar sobre o repertório de nomes fundamentais da música brasileira, tem um papel importante na formação musical das crianças que passam por seus quadros. "É muito bom que a cidade possa oferecer isso", diz.
Helena Bel, diretora musical do Brasileirinho e violinista da Orquestra à Base de Corda, avalia que dificilmente os grupos poderiam sobreviver sem o apoio da Prefeitura. "Totalmente autônomo, a tendência é desaparecer, porque não conseguiríamos competir. Como você leva ao Rio de Janeiro, por exemplo, uma orquestra com 16 pessoas?", questiona.
Para Sérgio Albach, diretor artístico da Orquestra à Base de Sopro, os grupos artísticos do Conservatório, além de contribuírem para a criação de uma estética própria na cidade, são um patrimônio de Curitiba e a vêm colocando no mapa da música brasileira e mundial. "Falta uma visão da Prefeitura e da FCC em enxergar isso como potencial de divulgação da cidade como pioneira na criação de um Conservatório de MPB, que foi um divisor de águas na nossa cultura", avalia.
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