O enredo, com personagens como juízes e policiais, foi propício para que a peça “Morte Acidental de um Anarquista” se transformasse, em tempos de Operação Lava Jato, em um manifesto político. Foi o que aconteceu na noite de sábado, com várias intervenções vindas da plateia, mas também capitaneadas pelo ator Dan Stulbach, que comandava o espetáculo às vésperas do encerramento do Festival de Curitiba.
O artista dialogou com o público, perguntando frases que um juiz costuma dizer, para então, “compor” o personagem. Em meio a expressões como “ordem” e “silêncio no tribunal”, um espectador no fundo do teatro gritou: “viva o juiz Sérgio Moro!”. Foi aplaudido, inclusive por Stulbach, e quando as palmas cessaram, o som foi substituído por “Fora Cunha” e “Não vai ter golpe”. O ator deu espaço para todas as manifestações e a cada intervenção da plateia ouviam-se vaias e aplausos. Stulbach interrompeu a evolução ao repetir o grito de um alguém da plateia, “República de Curitiba”, e então conseguiu a atenção de volta para si.
Popstars
Mas o próprio Stulbach retomava o assunto, ora gritando “viva a democracia!”, ora com uma grampeador ao lado de um telefone dizendo que “está grampeado”. O juiz Sergio Moro também virou alvo, a partir de indiretas. Por várias vezes o ator insinuou que ninguém fiscaliza o judiciário e que alguns magistrados se tornam popstars. Ao narrar o que acontecia com o juiz responsável pela investigação que ocorria na peça, Dan ironizou: “o responsável pela investigação seria vangloriado, seria idolatrado, gritariam o nome dele nos teatros.”
Abusando do improviso, ele soltou novamente “Fora Cunha” e “República de Curitiba”, levando o público às gargalhadas. Com o espetáculo caminhando para o final, Stulbach fez questão de dizer que “O escândalo é o sal de frutas da democracia” e que a sociedade sempre busca um novo escândalo para ocupar o seu cotidiano.
O público também reagiu à peça. Para Jaqueline Alana, professora, as diversas citações ao momento político são pertinentes e deveriam mesmo acontecer. O engenheiro Tiago Gonçalves não discordou e disse que toda opinião deve ser ouvida e respeitada, exatamente como aconteceu durante a peça.
O ator Marcelo Castro Fractons, que interpretou um policial, definiu tudo aquilo como algo “muito louco”. Ele considerou naturais as manifestações políticas. A reportagem tentou contato com Stulbach, mas foi impedida pelos seguranças. Ao fim do espetáculo, ele se despediu da plateia e foi direto para a van que estava atrás do teatro.
Além de Stulbach e Will, a peça é encenada por Maira Chasseraux, Riba Carlovich, Henrique Stroeter e Rodrigo Geribello e é dirigida por Hugo Coelho. O texto se baseia em uma história real, escrita pelo italiano Dario Fo, ganhador do Nobel de Literatura de 1997.