| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

2014 começou agitado para o escritor Cristovão Tezza. Ele acaba de finalizar seu novo romance, O Professor, a ser lançado em Curitiba no dia 2 de abril pela editora Record. "É meu melhor livro até hoje", afirma o autor.

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Tezza também lançou, usando uma ferramenta de autopublicação da loja virtual Amazon, uma coletânea de textos críticos, com resenhas e ensaios publicados na imprensa entre 1995 e 2013. Ainda no formato digital foi relançado O Terrorista Lírico, um de seus primeiros livros, publicado originalmente em 1981.

Pela editora Arte e Letra, está no prelo uma reedição artesanal de Uma Questão Moral. As traduções de O Filho Eterno (Record, 2007) não param – já são quatorze. A mais recente, em mandarim, chega ao mercado chinês em março. O autor viaja para lá na próxima semana, onde participa do tradicional Bookworm Festival, em Pequim.

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Da China, vai à França, participar do Salão de Paris. Antes de pegar a estrada, Tezza falou com a Gazeta do Povo sobre o novo trabalho, as diferentes fases de sua carreira e a alegria em "brincar" com as plataformas de autopublicação digital.

O seu novo livro já está pronto. O que dá para adiantar antes do lançamento?

Acho que é o meu melhor livro até aqui – um romance de maturidade. E estou muito feliz com o novo projeto gráfico da Record, que vai começar uma nova fase da edição dos meus livros. O projeto de O Professor é antigo – o primeiro arquivo deste romance já tem uns cinco ou seis anos. O que eu estava esperando era um bom momento para tocar o livro sem muitas interrupções. Consegui fazer isso em 2013, quando viajei muito pouco.

O título O Professor pode sugerir que o texto seja autobiográfico...

Não há nada autobiográfico neste livro. No meu caso, O Filho Eterno é a exceção absoluta. Nenhum outro romance meu é autobiográfico. E autobiográfico, mesmo, de fato, é apenas O Espírito da Prosa, um livro de memórias. É interessante como a crítica está criando uma imagem da literatura brasileira das últimas duas décadas como confessional, autobiográfica, pessoal. Até o nome de "autoficção", uma categoria nova da teoria literária, foi evocado. Mas acho que esse olhar não tem correspondência com a realidade literária brasileira. A prosa recente está apenas redescobrindo a prosa, que no Brasil desapareceu nos anos 1970 e 1980, engolidas por um projeto dominantemente poético-formal, pautado pela universidade, que, na ditadura, tornou-se o grande refúgio da nossa produção literária.

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O escritor sente falta da vida de professor?

Não, não sinto falta. Quando saí da universidade para me arriscar na vida selvagem aqui fora, o meu projeto acadêmico já estava esgotado. Meus 20 anos de professor foram muito bons; a universidade fez boa parte da minha formação, e nela tive condições de me consolidar como escritor. Mas a literatura foi tomando conta da minha vida de um modo que não deu mais para conciliar as coisas. E eu não teria condições de esperar mais dez anos pela aposentadoria.

Você volta ao romance depois de publicar contos, crônicas e ensaio. Como surge essa necessidade e o que muda em sua rotina para escrever um romance?

Sou substancialmente um romancista, mesmo quando escrevo contos. A mesma personagem – Beatriz – percorre quase todos os contos que escrevi, o que é tipicamente um projeto de romancista. O que houve foi que, depois de O Filho Eterno, senti necessidade de dar uma parada para balanço. Daí nasceu, por exemplo, O Espírito da Prosa. Os contos foram acontecendo meio por acaso. E o livro de crônicas aconteceu meio naturalmente depois de quatro anos como cronista da Gazeta do Povo. Aliás, a crônica, para mim, é o gênero mais difícil de todos. Comecei a escrever crônicas depois dos 50, o que não é simples. Sofro toda semana!

Você também tem uma experiência recente de autoedição de seus livros em lojas virtuais. Como isto aconteceu?

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A minha ideia básica é simplesmente tornar o livro disponível ao interessado. A autopublicação digital é um divertimento para mim. Primeiro, porque eu gosto da cultura digital, de internet, de computadores – provavelmente porque não tive autorama quando era criança. Acho o maior barato fazer digitalmente a capa de um livro, por exemplo.

Bem, eu tinha vários livros fora de mercado que estavam esgotados. Ou livros de formação, como O Terrorista Lírico ou A Cidade Inventada, ou textos de interesse acadêmico, como a minha tese de doutorado (Entre a Prosa e a Poesia – Bakhtin e o Formalismo Russo). Também reuni todas as resenhas, críticas e ensaios que já publiquei na imprensa. São livros que eu não vejo muito sentido em publicar em papel. Mas é interessante deixá-los à disposição na rede, em formato de e-book. Assim, não sou tão ingrato com a minha própria formação.

Como tem sido a resposta de público?

A resposta ao livro digital ainda é muito fraca no Brasil. Se já é difícil vender livro em papel, o digital é mais difícil ainda. As tabuletas digitais ainda não pegaram, mas o hábito devagar vai se formando. Eu mesmo sou um leitor de digitais. Para viagem, um Kindle é uma mão na roda. Sempre tenho o que ler. E há o problema do espaço físico – cada vez teremos menos espaço para estantes e livros. O conceito do livro digital é extraordinário – é uma revolução. Agora, dizer que o digital vai acabar com o livro de papel é uma bobagem completa. As duas formas vão conviver pacificamente enquanto houver leitores no mundo.

Você relê seus livros antigos? Que impressão eles te dão agora?

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Divido minha produção em duas partes. A primeira, de formação, vai até Ensaio da Paixão (1980) (Record, 2007), um romance de transição para o escritor "adulto", digamos assim. Com Trapo, dos anos 80, começou minha produção mais madura. A partir do Ensaio da Paixão, todos foram ou serão relançados pela Record. Reler livros anteriores é uma atividade de risco. Há livros que já foram reeditados várias vezes e nos quais sou incapaz de mexer uma vírgula – já nasceram prontos, como Trapo e Uma Noite em Curitiba (Record, 2014, 2.ª edição, revista com um prefácio do autor). Outros foram bastante mexidos na reedição, como Breve Espaço entre Cor e Sombra – acabo de relançá-lo com o título Breve Espaço (Record, 2013).

Uma matéria recente do jornal O Globo deu a Curitiba o epíteto de "cidade literária". Você concorda?

Curitiba é mesmo uma cidade literária. Lutei contra Curitiba anos a fio, até me entregar a ela. Ela venceu: fez minha cabeça. Só a literatura tem esse poder.

Serviço

Os livros O Terrorista Lírico (R$ 8,90), Leituras – Resenhas & Ensaios (R$ 9,90) e outros doze títulos de Cristovão Tezza estão disponíveis no formato e-kindle book no site www.amazon.com

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