Com o sucesso de "Cidade de Deus" em todo o mundo, era de se esperar que o novo filme do cineasta brasileiro Fernando Meirelles ganhasse grande repercussão na mídia especializada. Surpreendente é a quantidade de elogios da crítica americana à primeira produção de língua inglesa do diretor, "O jardineiro fiel", que estréia na próxima quarta-feira, dia 31 de agosto, véspera de feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos.
Pelo menos cinco dos principais suplementos culturais dos EUA exaltam "O jardineiro fiel" ("The constant gardener"), adaptação do romance homônimo de John le Carré, que chega ao circuito brasileiro dia 14 de outubro, depois de participar dos festivais de Veneza e do Rio. O romance de Carré segue a trajetória do diplomata britânico Justin Quayle (Ralph Fiennes, no cinema), em Nairóbi, que parte em busca da verdade por trás do assassinato brutal de sua mulher e descobre uma conspiração.
"A câmera frenética mostra que os opostos se atraem: o ator contido e o agitado diretor fazem um par inteligente", diz a "Time Magazine". A revista dedicou a matéria sobre o filme ao talento do protagonista Ralph Fiennes. "Depois de grandes papéis em 'A lista de Schindler' e 'O paciente inglês', ele parece voltar à cena em grande estilo". E elogia a direção do brasileiro: "Enquanto muitos diretores querem que seus atores sejam grandes na atuação, Meirelles prefere que seu ator seja 'menor', mais contido".
Para o crítico Richard Corliss, o resultado é uma história mundial, vista através dos olhos de um diretor de Terceiro Mundo. "Um filme poderoso e cheio de nuances, sem defeitos de atuação", completa.
O "Hollywood Reporter" diz que "O jardineiro fiel" é uma "feliz exceção" diante de adaptações de histórias sobre corrupção, intriga e espionagem. "Muitos (diretores) acabam deixando algumas nuances de fora", diz o crítico Kirk Honeycutt. Para ele, o filme consegue mostrar todos os lados, tanto das grandes corporações, como o do governo e "dos macacos-velhos". Tudo graças à escolha do diretor brasileiro, diz a revista.
"Seu estilo impressionista, seu jeito guerrilheiro de filmar nos hipnotizam. E seu ponto de vista é menos britânico (apesar de o filme ser da Grã-Bretanha) e mais de Terceiro Mundo", completa a "Hollywood Reporter". A revista destaca que Meirelles transforma as pobres vilas do Quênia em lugares cheios de vida, assim como fez em "Cidade de Deus".
A revista ainda fala que o filme, uma clara paixão de seus atores pelo trabalho, é uma ótima opção que vai na contramão dos blockbuster de verão na América do Norte. E ressalta que a bilheteria "não deverá ser nenhum estouro, mas não deve fazer feio devido ao sucesso do livro de Carré".
'Variety': 'Diretor foi feliz com sua versão do romance'
"Provando que não é diretor de um sucesso só, o brasileiro Fernando Meirelles enche de vida um jogo de intrigas internacionais tendo a África e a indústria farmacêutica como pano de fundo", assim começa a crítica da respeitada revista "Screen". E continua: "Em parte uma história de amor mostrada através de flashbacks, em parte um mistério político e, em outra parte um profundo drama, o filme é uma bem articulada demonstração do jogo de interesses na exploração do Terceiro Mundo nas mãos de mercenários".
O crítico Brent Simon diz que o filme tem tudo para se tornar uma boa bilheteria. "...Principalmente graças àqueles espectadores cansados com a baixa qualidade das produções lançadas neste época do ano nos EUA", diz a revista, que fala até do potencial de prêmios do filme. A publicação ressalta, ainda, a alta qualidade técnica e o "pedigree" dos créditos, que fazem do longa-metragem um grande candidato ao Oscar. Destaca também as categorias de direção de arte, que merece atenção especial, e acha que o enredo sobre intrigas geopolíticas pode atrair os votantes da Academia "que gostam de ter suas consciências sociais despertadas".
Para a "Screen", Meirelles traz um ponto de vista diferente dos "olhares solitários dos britânicos". "É mais vibrante e universal", diz. "É difícil assistir ao filme e não lembrar da imagem de um mar infinito de telhados de latas que compõem as comunidades de um bairro pobre de Nairóbi. Você pode praticamente sentir o fedor dos barracos por onde corre um rio de lama", completa a crítica.
A revista ainda destaca a fotografia do brasileiro César Charlone, o mesmo de "Cidade de Deus". "Eles usam o mesmo estilo daquele filme que fez um retrato inesquecível do Brasil".
A "Variety" destaca a visão política do longa. "Se Bob Geldof (idealizador da campanha de ajuda à África, o Live 8) fosse diretor de cinema, gostaria de ter feito 'O jardineiro fiel'. É um filme necessário e maduro que mostra as injustiças de uma África pobre. Meirelles foi feliz com sua versão cinematográfica do romance de Carré", elogia a revista especializada.
A "New York Magazine" escreve: "No emocionante thriller, o diretor mostra uma das mais sutis e, ao mesmo tempo, excitantes performances na tela (...) A política de Le Carré só foi transferida para o cinema de forma tão artística em 'O espião que veio do frio' (1965), de Martin Ritt. O crítico Ken Tucker também elogia os movimentos de câmera do filme e diz que muitas vezes Fiennes "está nu canto da tela, para que a gente veja o que está acontecendo e, de repente, a câmera roda e o coloca no centro da ação".
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