Desta vez não há polêmica em torno do diretor - apenas em torno de sua obra. Os críticos estão elogiando o provocador Oliver Stone pelo respeito, discrição e patriotismo demonstrados em seu novo filme "As Torres Gêmeas" ("World Trade Center"), que estréia esta sexta-feira (11) nos Estados Unidos.
Os elogios aparecem ao mesmo tempo em que se indagam se o público americano está preparado para assistir a um filme sobre uma ferida nacional que ainda não cicatrizou: a tragédia de 11 de setembro de 2001. "As Torres Gêmeas" mostra o heroísmo de dois policiais que mergulharam no inferno do WTC para salvar pessoas e acabaram soterrados sob os escombros.
Especialistas em bilheteria prevêem que, apesar das resenhas elogiosas, o filme da Paramount que custou US$ 65 milhões terá um grande obstáculo pela frente: será que as pessoas vão querer vê-lo, ou preferirão se abster devido ao tema delicado?
Para alguns especialistas, o filme pode ser considerado sucesso se vender mais de US$ 20 milhões em ingressos entre hoje e domingo.
Imediatamente após o desastre, cineastas evitaram o tema e chegaram a deletar imagens das Torres Gêmeas digitalmente de filmes já existentes. Foi o caso de uma cena de "Homem-Aranha", que foi cortada porque mostrava o super-herói escalando as duas torres.
Mas, em abril deste ano, "Vôo 93" (veja trailer), sobre a revolta dos passageiros do vôo da United Airways que impediu seus sequestradores suicidas de derrubar o avião em Washington, estreou entre críticas respeitosas, arrecadando US$ 31,5 milhões nos EUA, apesar de alguns espectadores terem saído do cinema chorando depois de assistir a parte do trailer.
Paul Dergarabedian, presidente da Exhibitor Relations, que rastreia cifras de bilheteria, disse que "Vôo 93" e "As Torres Gêmeas" são "filmes sobre um tema delicado que foram divulgados de maneira especial e respeitosa".
Ele acrescentou: "Qualquer filme que trate desse tema terá que encontrar um público disposto a encará-lo. Não se trata de diversão escapista. Esses filmes foram criados para um objetivo mais elevado do que a bilheteria, levando as pessoas a enxergar o acontecimento pelos olhos de seus diretores".
O fato de "As Torres Gêmeas" ter sido feito por Oliver Stone provocou surpresa inicial, porque o diretor é conhecido por filmes políticos que desancam as autoridades, tais como "JFK - A pergunta que não quer calar", que sugeriu que o assassinato de John Kennedy envolveu conspirações nos mais altos escalões do governo.
Desta vez, Stone não encontrou conspiração alguma, para a decepção de setores que pensam que o desastre foi planejado e então acobertado pelo governo americano. De fato, esses setores podem estar entre os maiores críticos do filme e planejam distribuir folhetos na entrada de alguns cinemas no dia de estréia.
Basicamente, porém, os críticos consideraram o filme uma mudança de atitude espantosa de Stone, em relação a seus trabalhos anteriores.
O crítico do "The Village Voice", J. Hoberman, indagou: "O que foi que Oliver fez desta vez? Para a direita irredutível, Oliver Stone é o mais odiado 'liberal de Hollywood' pós-Jane Fonda e pré-Michael Moore. Mas 'As Torres Gêmeas' é sua reabilitação. Não é apenas a coragem que é homenageada no filme, mas a vontade de Deus. Não são apenas os homens que são salvos, mas suas famílias e seus valores familiares".
O colunista conservador Cal Thomas descreveu a obra como "um dos maiores filmes pró-americanos, pró-família, pró-homens, pró-bandeira e Deus Salve a América que você jamais irá assistir".
Oliver Stone disse que espera que seu filme tenha efeito mais terapêutico do que incendiário.