Barbara Heliodora foi crítica teatral escrevendo para o jornal “O Globo”.| Foto: /Divulgação

A crítica de teatro Barbara Heliodora morreu nesta sexta-feira (10) aos 91 anos, no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pela manhã pelo hospital Samaritano, onde ela estava hospitalizada desde 21 de março. A causa da morte ainda não foi divulgada.

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Uma das críticas mais temidas do teatro, Heliodora é considerada a maior especialista em William Shakespeare do Brasil e traduziu várias de suas peças. Começou a carreira como crítica teatral, foi diretora do Serviço Nacional de Teatro e professora de história de teatro no Conservatório Nacional de Teatro e no Centro de Letras e Artes da Uni-Rio.

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Trajetória

Quando deixou a crítica, em janeiro de 2014, Barbara Heliodora afirmou ter nascido para ser público. Declarou-se fã do talento criador, acrescentando que ela mesma não tinha, “infelizmente”. Não que não tenha tentado, aqui e ali. Filha de Anna Amélia Carneiro de Mendonça, tradutora de Shakespeare e fundadora com Paschoal Carlos Magno da Casa do Estudante do Brasil, no Rio, Heliodora chegou a interpretar a rainha Gertrudes na histórica montagem de “Hamlet” pelo TEB (Teatro do Estudante do Brasil) de Paschoal, em 1948.

Também foi no TEB que ela viu aos 15 anos “Romeu e Julieta”, em 1938, seu primeiro Shakespeare, dramaturgo que seria uma paixão de toda a sua vida. Traduziu, entre outras peças dele, “Sonho de uma Noite de Verão” e “O Mercador de Veneza”, mas não “Hamlet”, por considerar insuperável o trabalho da mãe. O autor inglês também inspirou sua principal obra teórica, “A Expressão Dramática do Homem Político em Shakespeare”, de 1978, em que analisa as chamadas peças históricas e as considera um gênero criado pelo próprio Shakespeare.

Mas foi como crítica de imprensa que Heliodora se tornou mais conhecida. Começou em 1957 na “Tribuna de Imprensa” de Carlos Lacerda e pouco depois se transferiu para o “Jornal do Brasil”. Sua geração de críticos teatrais no Rio, que contava também com Paulo Francis no “Diário Carioca” e Henrique Oscar no “Diário de Notícias”, foi mais exigente e agressiva do que a anterior, liderada por Paschoal no “Correio da Manhã”, então o maior jornal do país.

Bandeiras
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Em 1964, dois meses depois do golpe, ela foi nomeada pelo governo Castello Branco para dirigir o Serviço Nacional de Teatro e deixou a imprensa. Ficou três anos no SNT, chegando a dar aulas de teatro aos censores. Passou também a ensinar teatro no Conservatório Nacional e depois na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Só voltaria à crítica regular depois de quase duas décadas, em 1985, primeiro na revista “Visão”, em seguida já no jornal “O Globo”, onde permaneceu até 31 de dezembro de 2013.

Na segunda fase de sua trajetória como crítica, bateu-se por maior respeito ao texto e contra a onipotência do diretor, mas também assumiu bandeiras inusitadas, como a defesa persistente que fez do besteirol, no final dos anos 1980 e início dos 90. Passou a ser questionada pela virulência com que escrevia contra espetáculos que a desagradavam e por supostas preferências, por amigos como Fernanda Montenegro e Miguel Falabella. Mas persistiu, comparecendo estoicamente aos teatros, inclusive para ver peças de grupos iniciantes.

“Vejo coisas horríveis”, contou ela, rindo, às vésperas de deixar a crítica. Até poucos anos antes, ainda era possível vê-la caminhando, sozinha pelas ruas, entre um espetáculo e outro na maratona do Festival de Teatro de Curitiba. No final do ano passado, Barbara publicou um livro a partir de um projeto curitibano.