Política de boa vizinhança
A programação de 2007 da Secretaria de Estado de Cultura terá um evento internacional: a semana do Paraguai, que, segundo Vera Mussi, o Paraná sediará a pedido do Itamaraty. Virão do país vizinho artistas do teatro, dança, música e literatura, além de profissionais da gastronomia. O evento acontecerá em agosto, em Curitiba, Maringá e, possivelmente, Ponta Grossa.
O Paraguai está confirmado ainda como participante do projeto Os Guaranis e as Missões Jesuíticas no Território do Paraná. "O Paraná fazia parte da nação guarani, que se estendia ao Paraguai, Uruguai e Argentina. As primeiras missões jesuíticas começaram no estado, hoje restam apenas vestígios arqueológicos. O objetivo do projeto é valorizar as missões no Paraná, a nação Guarani e a nossa ascendência em comum", explica Vera Mussi. Para tanto, Argentina e Uruguai também foram convidados.
A inexistência de uma política cultural no estado do Paraná e a centralização das ações culturais em Curitiba e região metropolitana foram as queixas mais recorrentes apresentadas pelos leitores como resposta à pergunta "O que você pensa sobre as políticas culturais do Paraná e de Curitiba?". A questão foi formulada pelo Caderno G Online há duas semanas e as observações deixadas pelos internautas foram repassadas à secretária estadual Vera Mussi, que contesta as críticas e comenta os projetos da Secretaria de Estado de Cultura (Seec) em entrevista ao Caderno G.
"Então, eles não sabem o que é política cultural.", surpreende-se a secretária. "O projeto Biblioteca Cidadã é o quê?", questiona. Trata-se do "carro-chefe" da Secretaria de Cultura. A iniciativa consiste em implantar bibliotecas nos municípios carentes, desde a construção do prédio, de um telecentro e uma sala para a comunidade, até a compra do mobiliário e de um acervo inicial de aproximadamente dois mil livros.
A pretensão é que, no final do ano, a Seec já tenha criado 101 novas bibliotecas no Paraná. "Elas se tornam um centro cultural. Nosso estado tem municípios com três mil habitantes, pense o que as bibliotecas farão com a vida dessa comunidade", propõe a secretária. "Isso é política cultural, porque está dando oportunidade para que as pessoas se desenvolvam intelectualmente. É um projeto para o futuro", defende.
Estado adentro
À segunda reclamação dos leitores, Vera Mussi responde com igual espanto. Questionada sobre a necessidade de descentralização da política cultural, ela é enfática: "Nós só fizemos isso na gestão praticamente!". A secretária explica: "Temos uma divisão do estado em 18 regionais de Cultura, cada uma com um representante eleito pelos seus pares. Esses representantes têm reuniões periódicas e sistemáticas na secretaria de cultura e participam de todas as ações como proponentes". Todos os pedidos dos municípios passam pelo crivo das regionais. "No último Vivo Verão, a secretaria repassou os recursos para a regional do litoral, que administrou toda a parte cultural", exemplifica.
Segundo a secretária, o mesmo vale para o interior do Paraná. "O interior inteiro sabe que a Secretaria de Cultura tem uma ação descentralizada". As principais ações que adentram o estado são as oficinas de formação e o mapeamento cultural. A gestão que assumiu a Seec este ano e manteve Vera Mussi no cargo decidiu pela reformulação das oficinas e busca parceria com a Secretaria de Estado do Trabalho (SETP) para oferecer cursos de profissionalização, principalmente nas áreas de cenografia, sonoplastia e iluminação.
A secretaria também dará continuidade às oficinas de formação em música e dança, com a parceria do Teatro Guaíra. "Na gestão passada, fizemos dois projetos separados, nesta faremos em conjunto o que acreditamos que dará mais resultado.", observa Mussi. A integração do Guaíra com a política cultural do estado não é constante, devido à independência administrativa do Centro Cultural. O mesmo ocorre com o Museu Oscar Niemeyer. "A parceria existe; não é sistemática, mas existe.", diz.
Outra realização que alcançou as cidades mais distantes foi o mapeamento cultural, que arrolou todos os espaços culturais, a gastronomia, lendas, contos e festas populares paranaenses. "Isso é a base de uma política cultural.", define Mussi. Os grupos não entraram na lista, segundo a secretária, porque o SESC-PR já está fazendo o levantamento. Os resultados encontrados na pesquisa da Seec devem ser divulgados no programa Paraná para Todos, previsto para estrear na TV Educativa daqui a um mês.
Incentivo à Produção
Em geral, o investimento em formação parece preponderar sobre o incentivo à produção cultural. Vera Mussi discorda. Enquanto a Lei Estadual de Incentivo à Cultura maior reivindicação da classe artística permanece atada aos tramites do Supremo Tribunal, devido à ação de inconstitucionalidade impetrada pelo governo anterior, a secretária argumenta que o apoio à produção cultural fica a cargo do Fundo de Cultura, uma proposta ainda em desenvolvimento. "Esse fundo é uma possibilidade que está em estudo por uma equipe da secretaria e de representantes da classe artística. Serão três vertentes: patrimônio, incentivo à cultura (à produção independente) e projeto", afirma Vera Mussi. Não há previsão de quando o subsídio entrará em funcionamento, "mas não deve demorar", promete.
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