Paranaenses sem patrocínio
Da Redação
A impossibilidade de contar com o patrocínio da Petrobras depois de 11 anos de parceria fez com que o Festival de Curitiba tivesse de cortar custos para a sua 18ª edição, que começa na próxima semana. O Itaú entrou na contabilidade como apresentador do evento, arcando com a maior fatia de patrocínio. O restante do bolo foi dividido entre Volkswagen, Heineken, Denso e Prefeitura de Curitiba. A conta final permaneceu 20% abaixo do que seria repassado pela petrolífera.
Atração da Mostra Contemporânea, a londrinense Armazém Cia. de Teatro também foi atingida pela crise, mas o diretor Paulo de Moraes minimiza os danos. "Está havendo um atraso normal, por causa dessa crise toda. Não é nada que apavore"
Em decorrência da crise econômica mundial, a empresa que mais patrocina a cultura no Brasil, a Petrobras, ainda não renovou contratos com companhias de dança, de teatro e de música ou com a direção de festivais que tem ajudado a realizar nos últimos anos. O balanço financeiro de 2008 que indicou lucro recorde de R$ 33,91 bilhões chegou na última sexta-feira ao setor de patrocínios da estatal, e, com base nele, será traçada a política cultural deste ano.
A demora foi fatal para o Festival de Teatro de Curitiba, que, prestes a começar, dia 17 deste mês, deixou de contar com a participação da petrolífera. Outros tradicionais patrocinados têm se adaptado como podem, atrasando salários ou contraindo dívidas. No fim de fevereiro, o conselho diretor da Orquestra Petrobras Sinfônica enviou um comunicado interno para tranquilizar os músicos, que dizia: "Desde o mês de janeiro, já estamos com todos os trâmites burocráticos junto ao Ministério da Cultura cumpridos. Entretanto, em função da crise financeira que se abateu sobre os mercados no ano passado, o contrato que seria assinado com a Petrobras na primeira semana de janeiro somente está sendo liberado pelo departamento jurídico do patrocinador nos próximos dias".
Em seguida, listava todas as etapas que se seguirão até a liberação da verba, que deverá ocorrer no meio de abril. Até lá, os salários ficarão atrasados.
"Assim que tivermos uma maneira de efetivar o pagamento de salários, faremos isso. Os músicos são compreensivos, entendem a situação. O clima é de tranquilidade na orquestra. Temos 21 anos de parceria com a Petrobras. Entendemos o fato de que ela precisou de mais tempo para elaborar seus contratos, neste cenário de crise mundial. No início do ano passado, devido à mudança na diretoria da orquestra, também houve atraso nos pagamentos, e os músicos entenderam a situação. Isso não é um problema frequente na nossa orquestra. Quanto a regentes e solistas convidados, não haverá dificuldades, porque eles sabem que não levarão calote. Sabem que receberão o cachê, mesmo que demore um pouco. A Petrobras Sinfônica tem credibilidade", afirma o maestro assistente e oboísta Carlos Prazeres, um dos filhos do fundador da orquestra.
Armazém
Saindo da música para as artes cênicas, a situação pela qual passa a Armazém Companhia de Teatro, criada em Londrina e hoje instalada no Rio, não é muito diferente. Vencedora de três edições do Prêmio Shell e duas do Prêmio Mambembe, ela conta com verba da Petrobras para sua manutenção. Como o dinheiro deste ano ainda não foi depositado, os salários não estão sendo pagos.
No ano passado, antes mesmo de a crise se intensificar, o valor do patrocínio fora reduzido e, em consequência disso, o grupo, que tinha 14 membros, passou a ter dez. "A Petrobras nos patrocina desde 2001 e vai continuar a fazê-lo em 2009. O contrato será renovado. Já estamos na etapa de entregar a documentação necessária. Assim que a verba sair, pagaremos os salários em dia", diz o diretor da companhia, Paulo de Moraes.
O diretor executivo da Cia. de Dança Deborah Colker, João Elias, diz que aguarda uma reunião na quarta-feira, na qual a renovação do patrocínio será negociada. Boatos recentes deram conta de que isso não aconteceria.
"São 15 anos de parceria. A continuidade em 2009 está garantida. Nossa publicidade continua a exibir o logotipo da Petrobras. Não sei se teremos a mesma verba do ano passado. Pode ser que haja renegociação de valores. Vamos discutir o calendário de 2009 e 2010 da nossa companhia. O contrato será novo porque estamos saindo da distribuidora BR e indo para a mãe, a holding Petrobras.
O patrocínio é usado na manutenção da nossa companhia. Nossa folha de pagamento é de R$ 200 mil por mês. Recebemos em setembro a última parcela de 2008, como estava previsto no contrato. Estávamos renegociando para dezembro, mas aí estourou a crise, e tudo ficou suspenso até agora. Tínhamos uma reserva que usamos para manter a escola, tivemos que contrair dívidas, o que é normal, e felizmente entrou dinheiro do Cirque du Soleil, com o qual a Deborah está trabalhando. Já esperávamos esse baque. Mas a Petrobras tem agido muito corretamente conosco", contemporiza Elias.
Filo
O diretor do Festival Internacional de Londrina (Filo), Luiz Bertipaglia, tem contado com a compreensão de seus convidados para manter a programação, que terá início dia 5 de junho. O maior patrocínio vem da Petrobras, que deu R$ 600 mil no ano passado para a realização desse festival teatral.
"Entendemos que este é um momento especial, e estamos falando isso para as companhias internacionais. Já temos as participações de algumas companhias acertadas, mas à espera de confirmação. Estamos pedindo a todas que aguardem, pois precisamos antes da definição da Petrobras. Com base nisso, saberemos se será preciso reduzir a programação ou se a manteremos inalterada. Claro que há o risco de perdermos algumas atrações durante esse período de espera. Mas ainda não perdemos qualquer grande nome por causa disso", garante Bertipaglia.
O diretor do Festival de Dança de Joinville, Victor Aronis, não cogita a hipótese de a petrolífera parar de apoiar o evento. Porém, o seu principal patrocinador é o banco Itaú, que já confirmou o financiamento para a 27ª edição do festival, em julho.