Gilberto Gil está encucado. Quer saber se está frio em Curitiba, se chove. Preocupa-se com a voz. Caetano não deu entrevista. O palpiteiro chegado numa polêmica escrevia o que pensava numa coluna no jornal “O Globo”. Ela acabou. Hoje Caê fala pouco. Com jornalistas então, é caso raro. Gil bate os pés no chão e carrega os terreiros do país inteiro no violão. O outro tem a cabeça nas nuvens e usa o instrumento para falar, com certa melancolia, de utopias mundanas.
Festa “protesta” contra os preços dos ingressos
Os preços dos ingressos para o show de Caetano e Gil em Curitiba (entre R$ 310 e R$ 950) causaram rebuliço
Leia a matéria completaOs baianos se apresentam lado a lado em Curitiba na noite desta quarta-feira (26), na Ópera de Arame. O show comemora a amizade e a parceria musical que começou há 50 anos, quando o produtor Roberto Santana apresentou um ao outro na Rua Chile, em Salvador. “É meu colega mais próximo, meu amigo mais direto”, diz Gil.
A turnê teve início há dois meses, passou por 18 cidades da Europa e estreou no Brasil em São Paulo. O baiano de 73 anos viu “as velhas gerações, já com seus filhos e netos no colo” e diz que foi a “celebração de um evento histórico”.
Impeachment?
Ex-ministro da Cultura entre 2003 e 2008, Gil é contra o impeachment da presidente Dilma Roussef. “A maioria do povo é contra”, diz. “Sou a favor de que as coisas se resolvam na continuidade constitucional, na vida democrática republicana. Alguns precisam entender isso. Os políticos precisam pensar menos no poder e mais na vida.”
Para hoje à noite, estão previstas 25 canções “voz e violão”. São composições de ambos. Um panorama da música brasileira e um recorte crítico do país. Pois falam de origens (“Eu Vim da Bahia” – Gil, 1975), “Migração” (“Sampa” – Caetano, 1978), exílio (“Terra”, Caetano – 1978), crença (“Filhos de Gandhi” – Gil, 1973) e futuro (“Expresso 2222” – Gil, 1972). A inédita “Camélias do Quilombo do Leblon”também está no repertório.
“A ideia é compartilhar: canto as canções dele, ele canta as minhas”, explica o pai de oito filhos (entre elas Preta e Bela Gil).
No rumo da música, os dois seguiram caminhos diferentes– e talvez este seja o ponto mais interessante a se observar no palco. Gilberto Gil parece regressar para se entender. No último disco, revela apreciação pelo violão de João Gilberto e inclui homenagens a Dorival Caymmi. Caetano, há algum tempo, avança para se reescrever: lançou três álbuns em parceria com a Banda Cê, roqueira de tudo.
Ópera de Arame (R. João Gava, s/nº). Dia 26 às 21h15. De R$ 310 a R$ 950. Assinantes da Gazeta têm 50% de desconto na compra de até dois ingressos. Mais informações no Guia.
“Ele tem interesse nas coisas contemporâneas. Eu, volto a atenção para o violão. Não quer dizer que ele seja vanguardista e eu, saudosista. São complementos”, explica Gil.
Os dois levaram broncas virtuais quando tocaram em Israel em julho. Seria um “apoio à ocupação da Palestina.” Houve uma petição pública para o cancelamento do show e até Roger Waters (Pink Floyd) entrou na onda. “Achamos que era melhor ir do que não ir”, diz Gil. “Nós nos opomos à virulência da política oficial de Israel. Com o show, resolvemos dialogar.”
É a música como mediadora, enfim. Dos arretados que se reencontram ou de povos que peleiam eternamente.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura