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Curitiba comemora neste dezembro os 45 anos do poeta, letrista, tradutor e agitador cultural Marcos Prado. Neste mesmo dezembro, chora-se os dez anos da sua morte. A Fundação Cultural de Curitiba e os amigos e admiradores (que não são poucos) organizaram uma série de eventos culturais para marcar a data (veja aqui a programação completa).

Marcos Prado viveu pouco para o muito que fez. Nos 35 anos em que esteve por aqui de corpo presente, agitou a cidade com sua inteligência afiada, suas rimas soltas (que sempre pareciam tão fáceis tanto por escrito quanto no falado), seu espírito festeiro e a amizade leal. Viveu intensamente tanto quanto criou.

Desde os tempos de Colégio Estadual do Paraná, tinha uma sede de saber que o fez o caçula de uma turma de agitadores. Na literatura, podia em uma hora fazer um poema sacaneando com um amigo, na hora seguinte, usava os versos para conquistar uma garota, na terceira hora, montava um soneto preciso. Até aí nada de mais para um adolescente qualquer, mas o que o diferenciava era que todos os escritos eram bons. Ele escrevia com aparente facilidade, mas só quem o conhecia bem sabia o quão elaborado era o lapidar das rimas e das métricas.

Montou e participou de grupos de estudiosos de literatura. Participou da criação do movimento punk em Curitiba. Formou bandas de músicas e municiou-as com algumas das mais belas letras que este país já teve. Suas letras serviam tanto para o punk rock quanto para o samba ou, se alguém preferisse, um tango. "Pra mim tanto faz se uma letra vai para o rock ou para o samba", me disse uma certa vez quando discutíamos se era importante pensar na energia do punk rock para escrever a letra. E isso antes que virasse moda usar letras de sambas antigos com ritmos de rock.

Sua escrita, na maioria das vezes, era direta, mas podia nos não raros momentos de romantismo revisitado, usar metáforas criativas e surpreendentes. Tinha a facilidade da convivência, nem sempre pacífica, com as mais diferentes figuras da cidade. Dos marginais aos magnatas o papo rolava com concordâncias e discordâncias, como deve ser uma boa conversa. Essa mesma facilidade ele usava para construir as inúmeras parcerias de letras e poemas. Ajudou a melhorar os textos de muitas pessoas (que, por consequência, ajudaram a piorar os textos dele). Mas, com os parceiros mais fiéis, os encontros se transformavam em brain storming poético e extremamente criativo.

O resultado: livros e mais livros, dezenas deles. Os melhores foram "O Livro de Poesias de Marcos Prado", "O Livro dos Contrários" e o recém lançado "Ultralyrics", da Travessa dos Editores, uma compilação de poemas e letras de música feitas pelo diretor teatral Felipe Hirsch, fan de carteirinha dos textos dele. O livro também traz um CD com letras musicadas e interpretadas pela banda Beijo AA Força.

O parceiro Antonio Thadeu Wojciechowski e o irmão Roberto Prado, escreveram no blog em homenagem a ele que está no ar at´o fim do ano: "Prado é destes poetas que tiveram a coragem (ou imprudência?) de impregnar a chama eterna da poesia que tanto amava com os fragmentos descartáveis da vida. Clássico contemporâneo, lírico cibernético, épico barroco? Ei-lo, inteiro, o nosso saudoso poeta que, como seus iguais, absorveu todo o bem e o mal-querer destes séculos e, em vez de expressar desencanto, cinismo, morbidez e tristeza, conseguiu ir além e nos brindar com a saúde dos seus poemas, esses frutos vivos que, certamente, têm polpa, seiva e caroço suficientes para atravessar, com sabor, os séculos futuros."

Esses frutos vivos de poesia estão sendo lembrados nesta semana, em que o Marcos Prado faria 45 anos. Dez anos depois dele não estar aqui de corpo presente - e, mesmo assim, continua agitando.

Veja aqui a programação completa da homenagem

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