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Made in Curitiba

• Educação Sentimental do Vampiro parece ser a volta ao berço de alguns integrantes da Sutil Companhia de Teatro, que completa 15 anos de trajetória, boa parte vividos em Curitiba. Alguns integrantes são artistas conhecidos da cidade como o próprio diretor do espetáculo, Felipe Hirsh; os atores Guilherme Weber, Erica Migon, Maureen Miranda e Zeca Cenovicz; e os responsáveis pela trilha sonora original, Rodrigo de Barros H. Del Rei e L.A. Ferreira, integrantes do Beijo AAForça.

• Os integrantes da Sutil Companhia de Teatro selecionaram 18 contos de Dalton Trevisan para a peça. São eles: "Uma Vela para Dario", "Noite de Paixão", "Lição de Anatomia", "Três Tiros da Pare", "A Filha Perdida", "Haikai", "Debaixo da Ponte Preta", "Morre Desgraçado", "37 Noites de Paixão", "Onde Estão os Natais de Antanho?", "O Almoço de Natal", "Balada das Mocinhas do Passeio", "Paixão e Agonia da Cigarra", "Abigail", "Senhor", "Bichos da Noite" e "O Plano".

O sotaque curitibano é exagerado. As cenas violentas, obscuras e que, em certos momentos, beiram o pornográfico, constrangem a ponto de provocar o riso. Mas, é justamente essa veia, às vezes, tragicômica, outras vezes, surreal, que torna Educação Sentimental do Vampiro um espetáculo digno da escrita do autor adaptado, o paranaense Dalton Trevisan.

Dirigida por Felipe Hirsch, a montagem é o último experimento da Sutil Companhia Teatro, radicada em Curitiba – e, diga-se logo, um dos mais bem-sucedidos. Não se pode afirmar, é claro, mas o Vampiro de Curitiba provavelmente aprovaria a transposição cênica de 18 de seus contos, em cartaz desde abril, no Teatro Popular do Sesi, em São Paulo.

O público parece ter aprovado. A adaptação de um universo aparentemente tão peculiar aos curitibanos vem esgotando os lotes de ingressos quase meio dia antes de as apresentações começarem – por isso, para quem for assisti-lo é recomendável buscar o seu ticket logo pela manhã. Em 2005, o Sesi apoiou outro sucesso estrondoso da Sutil, Avenida Dropsie, inspirado nas histórias seqüenciais do norte-americano Will Eisner. A peça, com cenário grandioso de Daniela Thomas, marcou o início de uma nova fase da trajetória artística de Hirsch, mais conectada com sua juventude, quando devorava livros de Eisner – mas, também de Dalton Trevisan, autor que optou por ser mais um habitante obscuro da cidade onde Hirsch viveu por muitos anos. Se, por um lado, foi fácil para ele transportar para o palco a Curitiba subterrânea dos livros de Dal-ton, que sempre esteve "em contato com seus sentidos", por outro, foi um desafio. "Podemos especular livremente sobre o que se passa na Rússia, mas não sobre o que se passa na nossa própria rua", disse, em entrevista ao Caderno G, quando estreou o espetáculo. Mas, a intenção do diretor e de sua companhia de ser fiel às palavras de Dalton – uma exigência do autor – e, ao mesmo, preservar sua própria percepção dos contos parece ter sido plenamente alcançada. Daniela Thomas optou por um cenário aparentemente despojado: espelhos que refletem os personagens e, por vezes, a platéia. A escolha não poderia ser mais coerente com a intenção de levar-nos a encontrar o reflexo de nós mesmos nas figuras tristes, desesperadas, violentas, taradas de Dalton. Em "Uma Vela para Dario", que abre o espetáculo, os personagens multiplicam-se no espelho, ao entrar e sair de cena, dando a impressão de uma multidão preocupada, pero no mucho, com o homem prestes a morrer na sarjeta. Guilherme Weber, Erica Migon, Jorge Emil, Luiz Damasceno, Magali Biff, Maureen Miranda e Zeca Cenovicz. Um a um, todo o elenco tira a roupa na montagem, contra-indicada para menores de 16 anos. As cenas de sexo, mesmo de mentirinha, são cruas e, por vezes, violentas como, por exemplo, em um conto que fala de um estupro na linha do trem. Mas, é impossível não rir da barbaridade das situações. O riso, no entanto, não é catártico. É diferente em cada momento – vai da gargalhada cúmplice à risadinha nervosa, de quem não sabe como reagir a certas visões. Como à de Hirsch completamente nu tentando, sem sucesso, consumar suas "obrigações" matrimoniais. Há também uma gargalhada grotesca, de alguns espectadores, em meio ao silêncio constrangido da maioria da platéia, disparada pela frase de um dos personagem de Dalton: "Você é gorda, mas é limpinha. É feia, mas é de graça". Às vezes, o riso revela mais do que espelhos. ß Annalice Del Vecchio

‹ Serviço: Educação Sentimental do Vampiro. Classificação 16 anos. Teatro Popular do Sesi (Av. Paulista, 1.313 – São Paulo), (11) 3146-7405. De quarta a domingo, às 20 horas. Ingressos a R$ 3 (entrada franca às quartas, quintas e domingos). Até 18 de novembro.

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