Uma das peças locais que alcançaram maior projeção no último Festival de Curitiba retorna ao cartaz esta semana. Na Verdade Não Era, apresentada na Mostra Novos Repertórios pelo grupo Teatro de Ruído, inicia hoje à noite uma nova temporada no Teatro José Maria Santos, onde permanece por um mês, pelo Circuito Cultural Sesi Teatro Guaíra.
O espetáculo é fruto do encontro entre a diretora Nina Rosa Sá, da extinta Cia. Provisória, com o dramaturgo Luiz Felipe Leprevost. Eles se conheceram quando participaram juntos de uma leitura de escritos de Hilda Hilst. Logo, acompanhando o blog do novo amigo, a diretora se interessou pelo que ele escrevia, e comandou a leitura cênica de um fragmento de 20 minutos, então intitulado Na Verdade Não Era um Sinal de Vá Tomar no Cu.
A parceria foi dando certo, encontrou lugar na Mostra Cena Breve do ano passado e evoluiu para um espetáculo completo, ao mesmo tempo em que Leprevost e Nina fundaram juntos uma nova companhia, a Teatro de Ruído.
Para aquelas poucas páginas iniciais se avolumarem até o texto final, urdido com tintas surrealistas, o dramaturgo se serviu dos traços de personalidade que as atrizes Ana Ferreira, Cilliane Vendrusculo e Kelly Eshima haviam conferido às personagens na ocasião das leituras. "A Kelly tem uma veia mais cômica que fica clara no texto, a maior parte das falas engraçadas é dela. A Ana tem uma postura questionadora mais incisiva. E eu acabo sendo mais diplomática", comenta Cilliane.
Ela centraliza a narrativa das aventuras da garota U, da qual se ocupam as três atrizes, vestidas como pinos de uma partida de tabuleiro. Movem-se o mínimo possível, para deixar que as palavras ditas ganhem toda a atenção. Como peças do jogo, alternam a vez de falar, ora competindo entre si, ora se ajudando mutuamente a inventar a saga urbana por Curitiba.
"Leprevost trabalha com um texto completamente narrativo. A ação se dá na fala. Nosso trabalho foi como imprimir diversas camadas a essa história, porque é engraçada, mas tem também uma dimensão do trágico, do caos urbano e dos seres que estão à margem", diz Nina, citando figuras como as universitárias que custeiam seus estudos trabalhando como garçonetes, a velha mendiga e as senhorinhas praticantes de budismo sempre vestidas de roxo.
Outro tema incubado na peça é o estar só na multidão da grande cidade. "A solidão, benzinho, é essa manada que tá aí", diz a certa altura o texto.
Dois atos se passam em que toda a "ação" é condensada na sugestão intensa de imagens. A partir de um terceiro momento, os planos do real e do imaginário se confundem. Saem as três contadoras de histórias e entra em cena a própria U, em monólogo de Uyara Corrente, que não à toa emprestou a primeira letra de seu nome ao papel que interpreta. E U diz que as outras é que eram personagens da sua imaginação.
Entusiasmado com a boa acolhida que teve até agora, o Teatro de Ruído planeja prolongar a vida do espetáculo, inscrevendo-o em editais e festivais pelo país. O primeiro a ser confirmado foi o Festival de Teatro de União da Vitória, em outubro.
* * *
Serviço
Na Verdade Não Era. Teatro José Maria Santos (R. Treze de Maio, 655), (41) 3304-7954. Quarta a sábado às 20 horas e domingo às 19 horas. R$ 10 e R$ 5. Até 30 de agosto.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Ataque de Israel em Beirute deixa ao menos 11 mortos; líder do Hezbollah era alvo