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Isabella é reconhecida pelo olhar sensível e próximo dos personagens que retrata. | Antônio More/Gazeta do Povo
Isabella é reconhecida pelo olhar sensível e próximo dos personagens que retrata.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

“Isabella faz parte de uma geração de jovens brasileiras que conhecem a sua responsabilidade para com outras mulheres, com ou sem a câmera na mão. Ela é aberta a ouvir e aprender, mas é ciente de seu dever – sair a campo agora mesmo e ser testemunha da história, como parte da história”. O trecho faz parte do texto que a fotógrafa carioca Marizilda Cruppe fez para apresentar a curitibana Isabella Lanave em uma seleção de mulheres fotógrafas que a revista americana “Time” publicou recentemente em seu site. Aos 22 anos, Isa, como é conhecida, é uma das 34 vozes femininas do mundo às quais a publicação recomenda seguir. Além dela, outras três brasileiras foram selecionadas: Alice Martins, Luiza Dörr e Monique Jaques.

A indicação de Isabella, feita pela própria Marizilda, ex-fotógrafa do jornal “O Globo”, a deixou surpresa. “Nem eu sei direito como fui parar na ‘Time’”, brinca, sobre o momento em que recebeu o e-mail das jornalistas responsáveis pela reportagem. Marizilda e Isabella se conheceram em 2016, no Rio de Janeiro e desenvolvem, junto com outras fotógrafas, a Associação Brasileira das Mulheres da Imagem. Assim como a carioca, outras fotógrafas recomendaram jovens talentos ao redor do mundo à revista.

Apesar da pouca idade, a curitibana tem um currículo robusto, que não condiz em nada com o de uma recém-formada, que é exatamente o caso dela. É que, durante o curso de Jornalismo na PUCPR, foi, segundo ela mesma “metida, no sentido de não recusar desafios”. “Sempre fiz tudo o que eu podia fazer, até demais. Não sabia dizer não. Me metia em todos os projetos, fui em todos os congressos que apareciam e apresentei trabalhos”, conta ela.

A fotografia era um interesse que existia vagamente na adolescência, quando uma amiga próxima comprou uma câmera. Na faculdade, porém, a inclinação aflorou. “Isabella sempre demonstrou ter aptidão para fotojornalismo e desenvolveu um trabalho bastante consistente e intuitivo”, conta Paulo Camargo, que foi professor dela em duas disciplinas na PUCPR. “Ela sempre foi em busca de pautas menos óbvias, de interesse humano. Tem essa vontade de interagir com a realidade e buscar personagens e uma sensibilidade de artista que está muito aliada ao que distingue sua produção fotográfica”, completa.

No meio do curso, ganhou bolsa para estudar um semestre na Universidade Guadalajara, no México. Lá, amadureceu junto com seu olhar, já que o contexto a obrigou a participar de um momento delicado. No período em que esteve lá, cobriu protestos que pediam justiça pelo assassinato de 43 estudantes na cidade de Guerrero, em 2014.

Com sua Lumix GX7, câmera que está sempre com ela, pequena e discreta, ela quer agora acompanhar histórias individuais e dedicar-se a um relacionamento com seus personagens de maneira a imergir nas nuances de cada uma delas. “É o que me instiga. Quando vejo pessoas, fico pensando quem são elas, o que elas fazem e o porquê de suas atitudes”. Depois de uma temporada no Rio de Janeiro, ela busca novas histórias em Curitiba.

“Isabella faz parte de uma geração de jovens brasileiras que conhecem a sua responsabilidade para com outras mulheres, com ou sem a câmera na mão. Ela é aberta a ouvir e aprender, mas é ciente de seu dever – sair a campo agora mesmo e ser testemunha da história, como parte da história. Ela não evita fotografar temas difíceis como sua própria família da classe trabalhadora. Isabella mostra intimidade com as pessoas que fotografa – ela é próxima, mas permanece respeitosa”

Marizilda Cruppe fotógrafa, na apresentação ao trabalho de Isabella na ‘Time’

A foto

A foto selecionada para a reportagem da “Time” retrata bem as buscas atuais de Isabella. A imagem retrata uma soneca da mãe e do irmão, na casa que a família estava construindo em Itajaí (SC), onde ela passou parte da adolescência, antes de voltar para Curitiba para estudar. “Em uma conversa com um amigo fotógrafo percebi que nunca parei para fotografar a minha própria família. Pensei: ‘Quero conta a história de um monte de gente e eu não tenho fotos da minha família além das selfies de Natal’”.

O clique tem uma série de outros significados para a fotógrafa. A mãe foi a musa de Isabella em ensaios feitos para a faculdade. “Foi ela que sugeriu o tema para o primeiro: fotografar mulheres nuas. Quando eu questionei quem aceitaria posar, ela disse que ela mesma seria a modelo e chamaria minhas tias, minhas primas. E participou de muitos outros”, lembra. Esse papel nos trabalhos de Isabella é inclusive um grande aliado no trabalho de transtorno bipolar da mãe. O registro que a “Time” escolheu foi um recorte raro da rotina. “Ela é muito agitada, mas naquele dia dormiu. Aproveitei”, resume.

Como bem observou a amiga Marizilda, ainda na apresentação para a Time, a curitibana continua “metida”. “Ela não evita fotografar temas difíceis como sua própria família da classe trabalhadora. Isabella mostra intimidade com as pessoas que fotografa – ela é próxima, mas permanece respeitosa”.

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