Quando se fala na ascensão dos nazistas alemães na década de 1930, uma pergunta sempre surge: como ninguém se opôs? O livro “Entre a Cruz e a Suástica”, do historiador curitibano Wilson Maske responde esta questão ao narrar um episódio pouco conhecido acontecido na colônia menonita de Fernheim, na região do chaco paraguaio.
Entre os anos de 1933 e 1945, um grupo de jovens (os völkisch) guiados pelo professor Fritz Kliewer, um líder jovem e carismático, tentou impor os princípios do nazismo na colônia.
Porém, outro grupo (os werhlos) se opôs à ideologia nazista, pois a considerava inconciliável com a doutrina de valores cristãos e pacifistas dos menonitas.
Entre a Cruz e a Suástica
Wilson Maske
Máquina de Escrever
256 pp
R$48
“Normalmente quando se fala da relação dos alemães com o nazismo tem-se a ideia que todo mundo entrou. Os nazistas usavam argumentos persuasivos. Quem não aderisse era antipatriota, antialemão, comunista. Mas todas as religiões cristãs reagiram contra o nazismo”, explica Maske.
Ele observa que o sentimento que formou o ideário nazista é um movimento do século 19 ligado à ideia de “pangermanismo”.
“Muitos consideravam a civilização alemã superior e se sentiam traídos pela história, pois com a autoestima tão grande não se conformavam da condição imperial de Inglaterra e Rússia”, diz.
Esse orgulho frustrado foi levado ao extremo por um movimento de extrema direita, o nazismo, numa circunstância de polarização política que se repetiu em várias ocasiões na história, segundo Maske.
Na próspera colônia menonita no Paraguai, o microcosmo político da Alemanha foi replicado, e os grupos pró-nazistas chegaram a controlar a colônia, mas foram sufocados com ajuda do governo paraguaio e de agentes infiltrados dos Estados Unidos.
“Os menonitas passaram a enxergar o perigo nazista como algo anticristão e buscaram ajuda junto ao governo paraguaio e o Comitê Menonita da América do Norte.
Missionários Espiões
Ainda que a Alemanha nazista fosse neutra em relação aos países da América do Sul, o governo americano, que tentava ampliar sua influência política e econômica, monitorou as manifestações pró-nazistas e interveio através de jovens missionários espiões.
“Descobrir esta história me pareceu o roteiro de um filme: um grupo de espiões que na verdade eram jovens religiosos sem nenhum treinamento militar, pois eram pacifistas, mas assumiram este tipo de missão no estrangeiro de atuar e informar”, conta Maske.
Em 1943, quando as notícias davam conta que a Alemanha estava perdendo a guerra, os werhlos passaram a hostilizar fisicamente os völkisch.
No início de 1944, quando o governo americano enviou ao governo paraguaio uma lista de alemães que deveriam ser expulsos do pais, Kliewer estava nela.
Em 11 de março, uma turba saiu à caça dos líderes nazistas e Kliewer e os outros foram expulsos de Fernheim.
Ficou preso até o fim da guerra na capital Assunção e depois migrou para a colônia Witmarsum no Paraná. “Foi um confronto entre política e religião, uma questão cultural de adaptação de um grupo a outra realidade e uma questão geopolítica que opôs a Alemanha aos EUA e sua influência na América do Sul”.
Vai piorar antes de melhorar: reforma complica sistema de impostos nos primeiros anos
“Estarrecedor”, afirma ONG anticorrupção sobre Gilmar Mendes em entrega de rodovia
Ação sobre documentos falsos dados a indígenas é engavetada e suspeitos invadem terras
Nova York e outros estados virando território canadense? Propostas de secessão expõem divisão nos EUA
Deixe sua opinião