
O tema religioso deu um tempo na 69.ª edição do Festival de Cinema de Veneza. Depois de um fim de semana sobre fé e família, a segunda-feira trouxe assuntos mais variados.
O destaque foi o longa Disconnect, de Henry Alex Rubin, primeira ficção do documentarista de Murderball, indicado ao Oscar em 2006. O longa fala sobre as vantagens e os perigos da internet, em especial um caso de bullying que culmina com uma tentativa de suicídio.
Mas o dia começou de maneira mais politizada com o filme do cineasta francês Olivier Assayas, indicado três vezes para a Palma de Ouro de Cannes e na competição oficial de Veneza. Em Après Mai, o diretor buscou inspiração na sua juventude para criar uma história sobre um garoto (Clement Metayer) dividido entre a política estudantil dos anos 1970 e a paixão pelo cinema.
O longa só não é tão similar a Os Sonhadores (2003), de Bernardo Bertolucci, porque ele se passa três anos depois, em 1971, quando a polícia francesa começou a ficar mais violenta contra os protestantes. O longa, inclusive, abre com um confronto entre estudantes e a Brigada Especial de Intervenção em Paris.
"Tudo aquilo aconteceu. A Brigada foi dissolvida em algum tempo, após a morte de um garoto", conta Assayas, que acabou de sair da minissérie televisiva premiada Carlos. Après Mai, então, passa a acompanhar um grupo de adolescentes de classe média engajado na luta pelos direitos dos trabalhadores e contra a opressão ao ponto de arriscarem suas vidas. "Não acho que esse tipo de compromisso exista na minha geração", crê o jovem protagonista Metayer.
Internet
Compromisso pode faltar para a nova geração, mas há outros problemas. Como o retratado por Disconnect, uma espécie de Crash (2004), de Paul Haggis, mas sobre internet, a instantaneidade dos boatos e o mau uso da tecnologia.
Um casal (Alexander Skarsgrd e Paula Patton) tem a conta bancária limpa por um hacker, ao mesmo tempo que usa webchats para desviar a atenção de uma tragédia; um ex-policial (Frank Grillo) que fazia parte da divisão de crimes cibernéticos, mas aposentado para ficar perto do filho; uma jornalista (Hope Davis) em busca de uma matéria sobre sites de pornografia de menores de idade; e um garoto (Jonah Bobo) que é enganado por dois colegas de escola e passa a sofrer bullying depois que uma foto sua vai parar na web.
O menino não aguenta a humilhação e tenta matar-se após o episódio. O pai (Jason Bateman), então, tenta descobrir a origem da imagem no Facebook. A ideia do roteirista Andrew Stern veio depois de um jantar com seis amigos, todos com o celular nas mãos o tempo inteiro. "Todos que estão on-line são anônimos e precisamos ser cuidadosos. Quis mostrar que a internet pode aproximar, mas pode distanciar também", diz o diretor.
Disconnect está longe de ser o filme definitivo sobre as novas formas de comunicação, mas é uma obra honesta. Tenta não criar vilões e mocinhos e apresenta soluções visuais interessantes e uma trilha sonora moderna escrita por Max Richter, compositor e produtor que trabalhou com o Future Sound of London e Roni Size. Se tivesse um pouco mais de coragem nas resoluções, poderia ter saído aclamado de Veneza, onde foi exibido fora de competição.
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