O documentário passou por uma grande transformação na última década, conseguindo ampliar muito sua audiência graças a uma leva de diretores que inovaram em temáticas e exploraram novas formas narrativas. O resultado de público se percebeu nas bilheterias e o gênero chegou até a atingir o patamar de blockbuster com Fahrenheit 11 de Setembro, de Michael Moore, que ultrapassou a marca de US$ 100 milhões de arrecadação só nos EUA.

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O novo momento do documentário também é uma realidade no Brasil, com títulos cada vez mais interessantes chegando todos os anos aos festivais, cinemas e mercado de vídeo. A VideoFilmes está lançando este mês em DVD três bons exemplos da recente produção do país: Um Passaporte Húngaro, de Sandra Kogut; Rio de Jano, de Anna Azevedo, Eduardo Souza Lima e Renata Baldi; e Justiça, de Maria Augusta Ramos.

Do pacote, o filme que chama mais atenção, pela proposta inusitada, é o realizado por Kogut, diretora brasileira radicada em Paris. A obtenção de um passaporte europeu tem sido uma busca de vários descendentes, pelas facilidades que podem ser obtidas depois da criação da União Européia. Sandra é neta de húngaros e decidiu obter um passaporte do país para facilitar sua vida no velho continente. Mas a busca pelo documento também se revelou um resgate afetivo, permitindo uma aproximação maior com sua avó e sua origem judaica.

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Kogut apresenta todas as dificuldades de se obter o passaporte (demora mais de um ano para conseguir), uma atividade que se transforma numa aula sobre parte da história da Hungria. A acertada opção de gravar quase que todo o vídeo sozinha, com uma câmera na mão, sem nunca aparecer em cena, aproxima o espectador de sua jornada.

Rio de Jano, como o cartunista francês Jano Jean le Guay define, é uma espécie de making of da produção do livro de desenhos que fez sobre a cidade do Rio de Janeiro. Conhecido no meio underground dos quadrinhos pelo personagem Kebra (publicado no Brasil na extinta revista Animal), Jano desenvolveu na capital carioca trabalho semelhante a dois outros livros que realizou: Carnet d’Afrique (1989, retratando viagens que fez ao continente africano) e Paname (1997, sobre Paris). Ele visitou os principais pontos da cidade brasileira, como o estádio do Maracanã, os bairros da Lapa e Santa Tereza, favelas, praias.

O cartunista apresenta em seus desenhos impressões muito pessoais sobre os locais por onde passa, algumas muito irônicas, outras divertidas, mas sempre distantes dos cartões postais. A marca registrada dos seus impressionantes quadrinhos, muito detalhistas, são as pessoas retratadas com feições de animais.

O destaque de Justiça fica por conta da exposição do sistema judiciário brasileiro. A diretora Maria Augusta Ramos apresenta como personagens dois réus de processos, uma advogada da defensoria pública e dois juízes (um deles alcança o cargo de desembargador durante as filmagens). A constatação do filme é a precariedade da Justiça brasileira, pouco compreensível ao leigo em seus trâmites e convenções, oprimindo e punindo apenas as classes mais baixas da população, impressão confirmada pelos depoimentos, entrevistas e debates apresentados no disco extra do DVD duplo.

Como filme, a produção se mostra um tanto cansativa, pela opção da diretora por uma câmara parada, que relata friamente o dia a dia do Tribuna de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Mas o distanciamento se revela uma decisão acertada da cineasta.

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