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O líder da guerrilha maoísta peruana Sendero Luminoso, Abimael Guzmán, reabriu as feridas em torno de um conflito que deixou 69 mil mortos, ao lançar um livro que foi retirado clandestinamente da sua cela, o que gerou constrangimentos para o governo de Alan García.

Na obra "De Puño y Letra", Guzmán, de 74 anos, defende a rebelião antigoverno que ele liderou entre 1980 e 92, quando foi preso. Também pede anistia para guerrilheiros e soldados e defende que seus seguidores participem de eleições.

O incendiário manuscrito foi retirado da prisão por advogados dele, sob o nariz dos guardas, e entregue a uma editora de esquerda, que o lançou no fim de semana.

García, que tenta dominar os remanescentes da guerrilha, envolvidos no tráfico de cocaína, quer proibir a venda do livro e processar os advogados sob a acusação de promover o terrorismo.

O ministro da Justiça, Aurélio Pastor, disse na terça-feira a parlamentares que "o livro é uma exaltação do movimento terrorista (que) apoia o genocídio violento."

Os advogados de Guzmán alegam que a guerrilha era um movimento legítimo, e dizem que ele deveria receber um indulto na sua pena de prisão perpétua, já que vários ex-militares responsáveis por massacres de supostos militantes de esquerda jamais foram julgados.

"Quero que ele seja libertado e exijo que seja libertado. Ele pagou e não pode ser condenado a morrer na prisão", disse o advogado Alfredo Crespo.

O governo rejeita os pedidos de anistia para o líder maoísta, e a opinião pública é majoritariamente contrária à guerrilha.

De acordo com Crespo, Guzmán considera que seus seguidores, muitos deles presos, deveriam participar das eleições, como candidatos ou eleitores. O Peru terá eleições presidenciais em 2011, nas quais García não pode concorrer. Candidatos de esquerda e direita já começam a se mobilizar para o pleito.

As pesquisas indicam um favoritismo de Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, que está preso por crimes contra os direitos humanos, cometidos na época em que ele combatia o Sendero Luminoso.

Crespo disse que a reação do governo ao livro foi "excessiva" e equivale a uma forma de censura. Outros setores, porém, foram mais críticos.

"Uma coisa é a liberdade de expressão, outra é tolerar que a apologia ao terrorismo por parte do criminoso mais sanguinário da história peruana", escreveu Aldo Mariátegui, colunista do jornal conservador Correo.

Guzmán, ex-professor de Filosofia, se equipara em seus escritos a Lênin, Marx e Mao, e afirma estar na linha de frente do movimento revolucionário global.

Seus seguidores o reverenciavam e cometeram centenas de atentados e assassinatos para tentar criar um regime comunista e extinguir as desigualdades sociais no Peru.

O Sendero Luminoso foi praticamente extinto depois da prisão dele, mas dois bandos ainda continuam ativos em regiões de cultivo de coca. Um desses grupos, que opera nos vales do Ene e Apurímac, rompeu ideologicamente com Guzmán e no ano passado matou 40 soldados, na tentativa de manter sua participação no tráfico de cocaína do Peru, segundo maior produtor mundial da droga.

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