Cena do filme "Meninos de Kichute”| Foto: Divulgação do Filme

Márcio Américo é do tipo que bate escanteio e cabeceia para o gol. "Poucas pessoas no Brasil acompanharam um filme como eu fiz com ‘Meninos de Kichute’", diz o escritor e ator londrinense. Antes de tudo, Márcio calçou o tênis Kichute e viveu a história na Vila Nova, em Londrina, nos anos 70; depois, escreveu o ótimo livro de memórias; no ano passado, fez o roteiro do filme juntamente com o diretor Lucas Amberg; daí, acompanhou pré-produção, seleção de atores, preparação de atores e filmagem; fez uma ponta como bilheteiro de cinema; está acompanhando a montagem do filme; finalmente, em julho ou agosto, estará no lançamento do longa-metragem. "É muito raro alguém acompanhar todo o processo de um filme."

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Beto, protagonista de "Meninos de Kichute", é goleiro. Márcio Américo atua em todas as posições. Ultimamente, além de acompanhar as montagens do filme, atua como comediante stand-up em São Paulo.

Pé-vermelho como poucos, Márcio Américo prepara-se para ver na tela as suas recordações dos anos 70 – uma época em que a criançada fazia ordem unida para cantar o Hino Nacional, usava Kichute, colecionava figurinhas, jogava bola-de-gude, assistia aos Trapalhões e apanhava de cinto. Essa viagem no tempo vai ganhar as telas por iniciativa do cineasta Lucas Amberg, que leu o livro de Márcio depois de passar por Londrina, em 2004, onde filmou "Heróis da liberdade".

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Cerca de 500 meninos e 300 meninos participaram dos testes para o elenco mirim de "Meninos de Kichute". Apenas 20 foram selecionados para o filme. Lucas Alexandre faz Beto, o personagem principal. Os pais de Beto são interpretados por Werner Schumann e Viviane Pasmanter. Arlete Sales faz a dona do cortiço onde mora a família de Beto; Paulo César Peréio e Mário Bortolotto têm participações especiais.

As filmagens de "Meninos de Kichute" foram realizadas no município de Piracaia (SP) e terminaram no dia 21 de janeiro. Para Márcio Américo, a pequena cidade a 90 quilômetros de São Paulo foi um cenário perfeito para a história, que originalmente se passa na Vila Nova, um dos mais antigos bairros de Londrina. "No filme, é apenas uma cidade do interior do Brasil, e não se dá nome a essa cidade", explica Márcio. A principal locação foi a escola de Piracaia, uma perfeita escola dos anos 70, com pé-direito alto e um pátio enorme. Em breve, os "Meninos de Kichute" vão sair desse pátio e correr nas telas de cinema.

Sons e imagens evocam anos 70

Trailer disponível no Youtube mostra cenas do filme. Ambiente faz lembrar a Vila Nova de décadas atrás O trailer de "Meninos de Kichute" pode ser facilmente encontrado no site Youtube (basta digitar o nome do fime). Ali podemos ver algumas cenas que evocam os anos 70. As casas de madeira fazem lembrar a Vila Nova de tempos atrás. Mas um elemento fundamental é a trilha sonora: músicas de Dom e Ravel, Zé Rodrix, Jorge Ben, Casa das Máquinas e outros nomes – sons que prometem despertar a memória de muita gente. A pesquisa musical foi realizada pelo próprio Márcio Américo, que conversou pelo telefone com o JL. Acompanhe a seguir os principais trechos da entrevista.

"Toda minha geração apanhou de cinto"

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JL: Você está gostando do filme?Márcio Américo: Há uma grande diferença entre as linguagens do cinema e da literatura. Num livro, por exemplo, você pode descrever a entrada do personagem no local usando 40 páginas. No cinema, você não pode fazer isso. Mas o filme é bastante fiel à obra. Quem leu o livro vai encontrar muitas passagens no filme. E também vai encontrar cenas que não estão no livro – mas que são muito boas, serviram para contar a história.

É difícil trabalhar com atores-mirins?A principal dificuldade com esses meninos é que eles vivem a pré-adolescência dos anos 2000. A década de 90, para eles, é quase nada; anos 70 e 80 não existem, são pré-história. Houve uma situação em que isso ficou bem claro. A figurinista distribuiu as roupas de época para os meninos e eles foram fazer algumas fotos. Na hora de fazer fotos, eles começaram a fazer bagunça – aquela bagunça que moleque faz. Eu disse para eles: "Nos anos 70, quando moleque pobre ia tirar foto, era um evento. Ninguém tinha máquina fotográfica em casa. E uma foto era muito cara para você estragar. Seu pai te quebrava se você estragasse uma foto". Eu tenho a foto que eles fizeram depois que eu fiz essa advertência: são moleques dos anos 70, parados e olhando para a câmera.

Que mais você falou para eles sobre os anos 70?Nos anos 70, os meninos faziam bagunça em sala de aula, mas com medo, porque a professora podia até mesmo te bater. Não havia nenhum problema quando a professora puxava a orelha ou dava uma reguada na cabeça do aluno. Há cenas em que o Beto apanha de cinto do pai. Foi preciso uma preparação para isso. No texto, o Beto fala: "Estou batendo o meu recorde: cinco dias sem apanhar!" A minha geração toda apanhou de cinta. A gente também mostrou a eles muitas imagens, muitas músicas, muitas revistas dos anos 70. Há uma cena em que eles descobrem uma revista de mulher nua e um deles disse que já havia visto mulher nua. Onde? No programa do Amaral Netto.

(risos) Mas esses meninos não sabem quem é Amaral Netto!Eles precisaram entender o que era o programa do Amaral Netto. Explicamos isso e outras coisas. Achamos, por exemplo, um álbum "Brasil Pátria Amada", de 1974. A preparadora de atores, Lúcia Segall, comprou bolinha de gudes, bilboquê, figurinhas. A produtora do filme virou um playground: um monte de moleque trocando figurinha, brincando, jogando bola.

Menino Lucas Alexandre faz o protagonista

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A julgar pelo trailer de "Meninos de Kichute", o jovem ator Lucas Alexandre promete boas cenas no filme dirigido por Lucas Amberg. Márcio Américo conta que Lucas foi selecionado entre mais de 500 meninos. "Ele não havia feito nada antes em cinema ou teatro. Começou a fazer a oficina com os outros atore meninos, e nenhum deles sabia que personagem iria fazer. Foi bom, porque todos puderam trabalhar vários personagens. Depois, quando começou a pré-produção, todos foram informados sobre seus papéis."

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