Livro
Dado Vila-Lobos. Mauad. 256 pp. R$ 32,80. Biografia.
Na noite de 18 de junho de 1988, um único pensamento girava na cabeça de Dado Villa-Lobos: “Que diabos está acontecendo aqui?”
Em um palco baixo no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, o guitarrista da Legião Urbana contemplava 48 mil pessoas enfurecidas – em parte por causa da péssima organização, em parte pelas provocações da própria banda. Às vésperas de completar 23 anos, ele achou que não sobreviveria para contar o episódio no livro “Memórias de um Legionário”.
A lembrança do Mané Garrincha é apenas uma entre as várias histórias que mostram os bastidores turbulentos de uma das bandas mais cultuadas do Brasil. Mas, diferentemente das dezenas de livros e trabalhos acadêmicos escritos sobre a Legião, “Memórias...”, é o primeiro a trazer a versão de uma testemunha ocular. A versão de Dado.
Há no livro passagens pouco conhecidas que mostram o distante equilíbrio em que se encontrava a Legião. No final de 1992, encerrando a turnê de “V” (1991), a banda estava por um fio por conta da relação de Renato Russo com as drogas e o álcool: “Lembro que, voltando ao Rio, no Galeão, eu estava esperando a mala quando o Renato chegou. Eu imediatamente lhe falei: ‘Pra mim chega! Perdeu a graça e a razão de ser, isso aqui está uma merda e você se perdeu, vamos encerrar o circo, não subo mais num palco nessas condições, se liga e vá se cuidar’.”
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Escultura de 11 metros de altura, adquirida em 1996, é o único trabalho de arte público da artista instalado em Curitiba
Leia a matéria completaPor outro lado, o vocalista também era capaz de situações hilárias, como insistir em ver tuiuiús durante a visita da banda ao Mato Grosso: “(...) ele adorava a novela “Pantanal”. (...) Chegamos ao hotel em Cuiabá, e só dava Beto Barbosa; era lambada pra lá, lambada pra cá. E o Renato falando: ‘Pantanal! Pantanal! Eu quero ver revoada de tuiuiús!’ ”.
“Desde o início, a ideia era falar sobre a banda, como ela funcionava, contar histórias sobre a formação, os shows e os discos e fatos que a marcaram e que pouca gente conhece – explica o guitarrista. “E, no meio disso, mesclar um pouco da minha trajetória e dar um contexto sociocultural e político da época.”
Filho de diplomata, Dado nasceu na Bélgica, em 1965. Aos 11 anos, se apaixonou por Lou Reed (a imagem da capa do livro não deixa dúvidas) e, adolescente, morando em Brasília, mergulhou na cena local. Com 18, foi oficialmente integrado à Legião Urbana – que contava com Renato nos vocais e Marcelo Bonfá na bateria.
A partir daí, a história segue em ritmo de montanha-russa até a morte do vocalista e o fim oficial das atividades do grupo, em 1996. Depois, encerra com a rusga de Dado e Bonfá com o herdeiro de Renato e os trabalhos atuais do guitarrista, como apresentador do programa “Estúdio do Dado” (no canal BIS) e produtor.
“Acho que não deixei nada de fora”, pontua. Estava com essa história toda fragmentada dentro e precisava juntar os cacos. E fui percebendo, ao longo do processo, que seria bom para mim e para o público ter esse foco interno e ver quem foi essa banda, quem foram esses caras. E tirar suas próprias conclusões.
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