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Grevistas dos Correios fizeram passeata pelo centro de Curitiba | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Grevistas dos Correios fizeram passeata pelo centro de Curitiba| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Maria Rita tinha um acordo com sua gravadora, a Warner. Só entraria em estúdio novamente no final deste ano. Até lá, teria todo o tempo para se mudar com calma para o Rio de Janeiro e curtir um pouco mais o filho, Antônio. Não foi bem assim. Atiçada pelos amigos Diogo Nogueira e Leandro Sapucahy (seu suposto namorado), a cantora caiu nas rodas de samba e decidiu antecipar a gravação do terceiro álbum, Samba Meu, que acaba de chegar às lojas.

Paulista, distante da Lapa e dos subúrbios e morros cariocas, Maria Rita teve consciência do risco que assumia. Mais do que se sujeitar a críticas da imprensa ou à desaprovação do público, seu medo era ser mal recebida pelos sambistas ao invadir o universo deles. O temor se dissipou com a boa acolhida dos bambas, manifestada principalmente no vasto material de composições que chegou às mãos da artista.

A escolha do repertório foi um desafio. "Comecei a notar que muitas das composições que estavam chegando eram sambas para a Maria Rita. Não era o que eu tinha idealizado para o CD. Eu que tinha de me desdobrar e aprender para cantar os sambas deles, não o caminho inverso", explica.

Entre sambistas veteranos e quase desconhecidos – uma mistura de gerações que acompanha todo o repertório da intérprete –, ela garimpou músicas de Arlindo Cruz, Gonzaguinha e Edu Krieger (recentemente "descoberto" pela composição "Novo Amor", gravada por Roberta Sá em Que Belo Estranho Dia para se Ter Alegria e agora por Maria Rita), entre outros.

"Acabei escolhendo canções que têm a ver comigo, com o momento, a minha história", diz a cantora, para depois confessar que todas as músicas que grava são autobiográficas. "Nem que seja uma frase".

Como exemplo, menciona "Tá Perdoado", um samba que Arlindo Cruz compôs há quatro anos e só agora foi "vivido"pela cantora. Mas, transformar suas experiências em composições está fora dos planos da filha de Elis Regina e César Camargo Mariano. Só o assunto, ela admite, já a deixa nervosa.

Pitacos

Samba Meu foi produzido por Leandro Sapucahy, sob os "pitacos" de Maria Rita. "Ele tem uma visão muito ampla de tudo o que acontece dentro do estúdio. Fiquei mais no aprendizado", afirma a cantora.

Pelo menos duas idéias do produtor foram determinantes para o resultado do disco. A primeira foi convidar Jota Moraes para criar os arranjos. "Eu estava apreensiva, porque nunca trabalhei com um arranjador. Entro no estúdio com a banda e a gente levanta o tom, o andamento, a forma da música. Mas foi muito bom, o Jotinha transita entre todos os gêneros", elogia a cantora.

A vontade de experimentar novas sonoridades foi o que uniu os três. A influência do jazz e da MPB, por exemplo, está presente entre os sambas. Aliás, a segunda sugestão crucial do produtor foi manter o trio básico de instrumentos dos discos anteriores (Maria Rita, de 2003, e Segundo, de 2005), com piano, baixo e bateria.

"A escolha foi, em princípio, rejeitada por mim. Eu achava que tinha que ser uma coisa mais chocante, mas o Leandro me convenceu da necessidade de me manter fiel à minha sonoridade", conta.

Na hora de cantar, outro desafio: superar a distância dos intervalos entre as notas. "Uma ou outra música tem as extensões diferentes do que eu estava acostumada a cantar, com muitos agudos e graves. Fiquei com um pouco de medo, conforme o repertório ia se firmando, de não ter boa voz para fazer. Me dediquei bastante e fiquei feliz com o resultado", diz. O desafio, afinal, serviu para ela se dar conta de que cresceu como intérprete. "Mas eu gostaria de ter mais graves", admite.

A pequena confissão é um dos sinais de que Maria Rita quer descer do pedestal de diva a que foi alçada logo na sua estréia com cantora. Arriscar-se como sambista é a sua maneira de combater a posição incômoda.

"Foi uma necessidade muito íntima de dar uma desengessada, por assim dizer. Desde a divulgação do primeiro CD, havia um protecionismo comigo, necessário naquele momento, mas que criou essa imagem de diva intocável, que não corresponde ao meu dia-a-dia e estava me fazendo mal", diz.

Apesar de todo esse envolvimento com o universo do samba, não esperem que o ritmo tome conta do próximo disco. Maria Rita faz questão de frisar: "Não tenho a menor pretensão de virar sambista". Os flertes com o gênero são o bastante.

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