Um classificado é lido no rádio. Um jovem quer trocar uma aliança de ouro com a inscrição "Luz da minha vida" por uma arma de fogo de qualquer calibre. Motivo da troca? O anunciante diz que prefere não revelar. Próximo anúncio. Uma moça troca um vestido de baile, usado em uma única noite, por um disco da cantora Ella Fitzgerald. Diz o motivo: se ela gosta de sofrer, o problema é dela. Os dois trechos fazem parte de uma das cenas de Café Andaluz, peça do espanhol Alejandro Kauderer que a Armadilha Companhia de Teatro estréia hoje em Curitiba.
Kauderer é um escritor de apenas 35 anos, ainda desconhecido no Brasil. Escreve textos para teatro que são, na verdade, fragmentos. Café Andaluz é uma série desses trechos, alguns muito curtos, outros mais longos. Vários deles parecem banais, como o de uma mulher intrigada com o fato de o café médio ser o menor servido no restaurante. Os textos são difíceis de encenar. Kauderer nunca deixa claro no texto qual é o personagem que fala cada uma das frases. Isso fica ao critério do diretor.
Diego Fortes, o jovem encenador da companhia, de apenas 22 anos, diz ter conhecido os textos de Kauderer em uma viagem à Espanha. Lá, o escritor que afirmam ter a mesma mania do curitibano Dalton Trevisan, de não se deixar fotografar escreve uma coluna para a revista Ilusiones. "Nunca falei pessoalmente, mas trocamos e-mails", conta Fortes, que há quatro anos toca a sua companhia, além de ser assistente de direção de Marcelo Marchioro. Quando soube que seria encenado no Brasil, Kauderer escreveu uma cena a mais para a peça, especialmente para a montagem curitibana, chamada Strangers in the Night.
Fortes diz que em alguns casos foi difícil decidir como montar um trecho. "O autor não diz nem quantos personagens estão em cena", comenta Fortes. Em um dos textos, por exemplo, há diversas perguntas que são sempre respondidas por alguém. É preciso decidir se quem faz as perguntas é sempre a mesma pessoa ou se são várias. E se quem responde é sempre uma só personagem ou se são várias. Nesse caso, o grupo decidiu fazer três pessoas se revezando nas perguntas e um ator respondendo a tudo sozinho, mas poderia ser o contrário. "Não há qualquer indicação, só os travessões sem nome e as falas", conta o diretor.
A peça deveria estrear na semana que vem, mas a companhia acabou participando de um edital do Teatro do HSBC e ganhou o direito de se apresentar por um fim de semana sem custo. A partir da próxima quinta-feira, as sessões mudam de teatro. Vão para o Espaço 2 (R. General Carneiro, 814), que está reabrindo depois de reformas.
* Serviço: Café Andaluz. Teatro do HSBC (R. Luiz Xavier, 11), (41) 3232-7177. Texto de Alejandro Kauderer. Direção de Diego Fortes. Com Alan Raffo, Lya Bueno, Thalita Freire Maia,Tatiana Blum, Flávia Schener e Diego Fortes. Hoje e amanhã, às 21 horas; e domingo, às 19 horas. Ingressos a R$ 12 e R$ 6 (meia).
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