Marco Novack fotografa ensaio de Seance, da Vigor Mortis. Busca por ângulos diferentes daqueles a que o público está acostumado dá o tom de seu trabalho| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo

Se tem um tema que serve de armadilha para a fotografia é o teatro. Na tentativa de captar toda uma cena, é comum o profissional ou amador se distanciar do palco e terminar com cliques escuros que não revelam muita coisa. Por outro lado, os apaixonados pela área por vezes conseguem resultados que são uma segunda obra de arte e dizem muito sobre a peça retratada.

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Não espanta que muitos desses fotógrafos tenham um pezinho no palco.

É o caso de Marco Novack, que atuou nos espetáculos Manson Superstar, Hitchcock Blonde e Peep Shows da Companhia Vigor Mortis e fotografa todos os trabalhos do grupo. Dizendo-se um viciado em "foto de camarim", em que é comum flagrar bons momentos de espontaneidade dos atores, ele tenta buscar ângulos diferentes daqueles que o público já esta acostumado a ver. "Pode ser com a aproximação da lente para captar detalhes importantes do figurino, ou um gesto", disse à Gazeta do Povo. Sua presença no interior do grupo facilita a identificação de momentos que resultarão em boas fotos.

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O mesmo ocorre com Elenise Dezgeniski, que atua no grupo de teatro e dança Obragem e para quem, antes da luz ou velocidade do clique, vem a compreensão da linguagem da peça que se vai fotografar.

"Às vezes você vê uma foto de peça em que se valoriza o belo em primeiro lugar, mas vê que ela não se relaciona muito com o espetáculo", explicou à Gazeta do Povo. Hoje ela trabalha também com a Companhia Brasileira de Teatro (de Vida) e CiaSenhas (de Homem Piano).

Há quase dez anos, quando fotografava, mas ainda não atuava no Obragem, Elenise começou a sentir curiosidade em saber como as cenas eram construídas. Ouvindo os atores contarem sobre seus conceitos, ela começou a aplicá-los também às fotos – mudando a velocidade da câmera, escolhendo um plano diferente etc.

Acompanhar ensaios e conversar com os atores é regra para esses profissionais que não conseguem mais assistir a um espetáculo simplesmente como espectadores. "Às vezes me chamam em cima da hora e eu até topo, mas prefiro quando dá tempo para conversar com os artistas e ver os ensaios", conta Alessandra Haro, que começou com a foto publicitária. Interessada em imagens que respeitam a luz real do local ("o que mais me agrada na fotografia é me adaptar à luz que já existe"), ela procura não usar focos artificiais nem controlar a iluminação de outra forma.

Outro elemento recorrente nas imagens de divulgação de teatro é o close, muito útil para revelar expressões dos atores. "Prefiro fazer close de rosto a fotografar cenas inteiras, porque sei o trabalho que dá", declara Chico Nogueira, que registra os espetáculos dos grupos Delírio, Pé no Palco e Antropofocus. "Tem muito que se diz com os olhos."

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O envolvimento do fotógrafo com o trabalho que está registrando acaba influenciando também os grupos – ao menos na experiência de Alessandra, que acompanha o coletivo de artistas Couve-flor e Silenciosa (de Burlescas). A estética deste último ela considera um "desbunde visual", e suas opiniões são muito valorizadas pelos artistas. "Minha fotografia começou a participar do amadurecimento do conceito artístico deles. É uma autofagia."