O sucesso foi estrondoso: quem imaginaria que uma produção local do Balé do Centro Cultural Teatro Guaíra alçasse bailarinos a um status de pop stars? Pois foi isso que aconteceu com O Grande Circo Místico, que estreou em março de 1983 mesclando balé, ópera, circo e teatro. A trilha sonora ficou a cargo de Chico Buarque e Edu Lobo. Resultado: os 50 bailarinos em cena encantaram o país, lotaram o Maracanãzinho e o Coliseu dos Recreios, em Portugal.
"A gente era reconhecido na rua, era uma loucura. Até hoje chega gente na minha frente e chora", conta a bailarina Eleonora Greca, que dançou por 30 anos no Balé Guaíra. A grandiosidade daquela década de 1980, porém, minguou, e as produções locais do balé, apesar de continuarem, têm uma dinâmica mais enxuta. Além do marco do espetáculo, foi naquele ano de 1983 a única oportunidade que o Balé Guaíra teve de fazer uma temporada internacional. Depois disso, as viagens se restringiram ao território nacional, quando não somente ao estado.
O fato é que o grupo versátil do Balé Guaíra que tem em seu repertório desde produções mais contemporâneas a clássicos como Romeu e Julieta e O Quebra Nozes [remontados mais de uma vez] se consolidou como uma das mais importantes companhias oficiais do país.
Criada em 1969 durante o governo de Paulo Pimentel (1966-1971), teve como primeiros diretores Ceme Jambay e Yara de Cunto, e foi formada com a intenção de o estado ter um representante na dança, já que a escola de dança (de 1956) tinha qualidade consolidada. "Existia uma vontade de fazer um corpo estável", relembra Yara. Primeiramente, foi formado um corpo de baile provisório. Assim que a parte burocrática foi resolvida, abriram audição para selecionar bailarinos, que vieram de várias partes do país.
Para Yara de Cunto, a formação de um corpo de baile foi um marco da profissionalização do bailarino. "É um carimbo, abre portas e oportunidades. Hoje, há muitas companhias particulares, mas que têm bastante dificuldade em se manter. É muito diferente de um corpo de baile que é remunerado, com horário e local para trabalhar."
Modelo
Com a promulgação da Constituição de 1988, vários teatros e balés no Brasil, que antes eram administrados por fundações com contratos via CLT e seleção por audições , se transformaram em autarquias, ou seja, os funcionários passaram a ser estatutários. "Nunca foi fácil produzir, mas isso piorou. Depois de 1991, não tiveram mais concursos públicos e começou um sistema de comissionados. Se criou um limbo", relata Eleonora. Atualmente, a companhia do Guaíra conta com 27 bailarinos, sendo 3 estatutários. Não há mais o cargo de bailarino principal. "Hoje, o conceito é outro, a grande parte das companhias não conta mais com a figura de dançarino central", explica a diretora do Centro Cultural Teatro Guaíra, Mônica Rischbieter. A contemporaneidade também não comporta mais um conjunto tão grandioso quanto o que existia na década de 1980, período de auge na dança em todo o mundo, segundo Yara de Cunto. "A tendência atual é trabalhar com grupos mais enxutos."
O envelhecimento dos bailarinos somafo ao fato de serem estatutários cria um gargalo na contratação, "que acontece em companhias de todo o país", salienta Yara. Segundo ela, a formação do G2 (em 1999), com bailarinos mais experientes oriundos do Guaíra, foi uma boa solução, já que o balé contemporâneo é menos "cruel" em relação à idade.
Melhoras
Eleonora Greca pontua a necessidade de planejamento a longo prazo para o balé e a figura de um produtor que venda os trabalhos para fora do país. "Tem de ter alguém para promover a companhia." Mônica Rischbieter conta que o balé estreará duas novas coreografias em agosto, a cargo de Alex Soares e Airton Rodrigues que também é bailarino da companhia , e o G2 fará um trabalho com Jomar Mesquita [do grupo mineiro Mimulus], com cenário mais enxuto para conseguir viajar pelo estado. Em 2014, o balé deve trabalhar com o diretor Gustavo Ramirez Sansano, do Luna Negra Dance Theater, de Chicago.
Deixe sua opinião