Terêncio (Alexandre Nero) viaja pelo Pantanal, conduzindo a boiada com o amigo Zeca (Eriberto Leão), no remake de Paraíso| Foto: Rede Globo/Divulgação

Cinema, teatro e novo seriado

Mais interessada em investir na carreira cinematográfica do que no teatro ou na televisão, desde que experimentou o sucesso como a prostituta Íria, do filme Estômago (dirigido pelo curitibano Marcos Jorge), a atriz Fabiula Nascimento está com dois longas-metragens prestes a estrear: A Guerra dos Vizinhos, de Rubens Xavier, e Reflexões de um Liquidificador,, de André Klotzel. E termina de rodar o terceiro, Não se Pode Viver sem Amor, sob o comando de Jorge Duran, e no qual contracena com Cauã Reymond.

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À esquerda, em pé, caracterizado para os shows da banda Denorex
Na peça Os Leões (2007), durante o Festival de Curitiba: descoberto por olheiros da Globo
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A introversão do verdureiro Vanderlei, de A Favorita, precisou ser esquecida antes mesmo de o fim da novela ir ao ar, para dar lugar a um tipo mais chucro, de gestos largos. Terêncio é o novo personagem, que obrigou o curitibano Alexandre Nero a refazer as malas – prontas para voltar ao Sul –, pensando em um destino bem diferente, o Pantanal. Em meio a boiadas, gravou suas primeiras cenas em Paraíso, a próxima novela das 18 horas da Rede Globo, que estreia dia 16 de março.

No remake de Benedito Rui Barbosa (autor também do original exibido entre 1982 e 1983), Nero fará o papel interpretado antes por Roberto Bontempo, contracenando com Eriberto Leão, Vanessa Giácomo e o cantor Daniel. Por telefone, o ator (e cantor) contou à Gazeta do Povo como foram as primeiras gravações – e falou da falta de tempo para seus outros projetos: no teatro e à frente das bandas Denorex e Maquinaíma.

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Você recentemente passou 20 dias gravando Paraíso no Pantanal. Como foi a experiência?

Alexandre Nero – Eu gravei o último capítulo de A Favorita quatro dias antes de ir ao ar. No dia seguinte, já estava no Mato Grosso. Foi difícil desligar de um personagem para entrar no outro. Nesse início das tomadas, a fotografia era mais importante do que os nossos rostos. Todas as cenas cinematográficas, grandiosas, da boiada e das paisagens, foram feitas para formar um banco de imagens do Pantanal, que será usado durante a novela. Agora voltamos ao Rio de Janeiro. Vou gravar cenas grandes nesta semana, quase monólogos, mas, lá no Pantanal, fazíamos poucos diálogos. As cenas eram em frente de uma boiada de 1,5 mil cabeças, com peões de verdade tocando.

Esse início proporcionou um tempo extra para se acostumar ao novo personagem?

Foi o laboratório mais que perfeito. Convivi com peões durante 20 dias. Retomei um monte de memórias afetivas que tinha desse universo. Voltei a andar a cavalo, o que há muito tempo não fazia. Quando voltei para o Rio, há duas semanas, tive de me concentrar em alguns momentos, para não falar com sotaque acaipirado.

Como é o seu personagem, Terêncio?

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É um peão nascido no meio da boiada, criado pelo pai, já falecido. Gravo uma cena muito bonita esta semana, em que conto a história de como fui criado. Tudo o que o Terêncio sabe é de boiada, aprendeu trabalhando desde pequeno. É um homem simples, daquele universo rural, e amigo de infância do Zeca, personagem do Eriberto Leão, o protagonista. Eles viajam por esse Pantanal levando a boiada.

Saiu na imprensa paulista que seria um personagem analfabeto, como foi o Vanderlei de A Favorita, mas no seu blog (www.alexandrenero.com.br) você desmente isso.

É engraçado como as pessoas começam a comparar; eu mesmo faço isso. O Vanderlei teve uma repercussão muito maior do que eu imaginava, por isso me colocaram na novela das seis. Ele e o Terêncio são muito próximos no universo simples, boa gente, mas têm personalidades diferentes. O Vanderlei era tímido, falava baixo, com gestos pequenos. O Terêncio fala alto, tem gestos largos, é extrovertido, tem muitos amigos, mas é chucro, não tem delicadeza.

Você se sente mais à vontade fazendo algum desses tipos?

Terêncio é muito mais fácil. Tive receio porque, sempre que se coloca sotaque na tevê, pode ficar caricato. Mas, como sou filho de mineiro e morei nesse universo, estou tentando resgatar, conversando com meus tios por telefone. A personalidade dele é mais próxima da minha. O homem tímido que há em mim foi esquecido faz tempo.

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Você disse que já tinha experimentado a vida rural.

Eu sou técnico agropecuário, formado em Muzambinho, uma cidadezinha de 20 mil habitantes, no sul de Minas, onde meu pai nasceu. Quis ser veterinário, então meu pai me mandou estudar na escola agropecuária, em regime interno, por três anos. Tinha aulas teóricas de manhã e práticas à tarde. Ia para o campo plantar, cuidar de galinha, gado, porco. Foram os melhores anos da minha vida. Mas, depois de formado, o diploma ficou na gaveta. Isso era uma piada na minha vida, até que, com a novela, serviu para alguma coisa.

Qual era a sua expectativa ao chegar na Globo?

Eu passei por várias fases. Quando me ligaram, foi como se o céu tivesse caído em cima de mim. Que máximo, vou fazer novela na Globo! Nunca tinha entrado no Projac. Foi a primeira vez que encontrei a Lília Cabral, o Chico Dias, o Tarcísio Meira. A minha sensação, na primeira vez que o vi, foi como ver o Papai Noel. Você não imaginava que ele existia – uma sensação infantil, meio surreal. Depois dessa maluquice toda, comecei a ver como um trabalho como outro qualquer. Tinha uma tremenda tristeza, porque ninguém sabia o meu nome ou o que eu ia fazer. Nem era um personagem fixo. Mas as pessoas gostaram tanto da relação da Catarina com o Vanderlei – e o Jackson Antunes fazer brilhantemente seu personagem fez com que torcessem contra ele e a favor de mim. O meu mérito foi que acertei na escolha de uma personalidade para ele que as pessoas gostassem – e isso é fundamental.

Como foi a transição entre o fim de A Favorita e o convite para esse segundo trabalho?

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Ouvi dizer, dois meses atrás, que estavam fazendo a pré-produção da novela e tinham cogitado meu nome para um personagem menor. Eu fiquei torcendo, até que recebi a notícia de que não faria e fiquei triste. Mas já estava pronto para voltar a Curitiba, para ensaiar a ópera Sete Caras da Verdade, que o Maurício Vogue vai estrear no Festival de Curitiba. Faltava uma semana de gravação (em A Favorita), quando recebi a notícia de que o ator que faria o Terêncio não pôde, por causa do contrato de um filme. Me mandaram o texto à noite e, no outro dia, às 8 horas da manhã, eu estava fazendo o teste.

Enquanto isso, como ficou sua carreira musical?

Por enquanto, está parada. Durante A Favorita, eu trouxe a banda (Maquinaíma) para cá, fiz show no Rio de Janeiro. Era a única maneira de darem uma olhada pra mim. Conseguimos uma boa matéria e a Cláudia Ohana cantou comigo. Vai ficar mais parada ainda agora, durante Paraíso, por ser um personagem muito grande, com muito texto. Quero me dedicar, porque agora é a hora. Se cair no gosto, eu continuo por aqui.

Você terá a chance de cantar ou tocar nessa novela?

Não vai acontecer, porque o (cantor) Daniel está no elenco. O personagem dele é cantor. Se o meu for também, enfraquece o dele. E o Terêncio já tem tantas histórias... Vai ser apaixonado pela Rosinha (Vanessa Giácomo), irmã do Zeca, que, no final, começa a ter olhos pra ele. Uma coisa curiosa é que tive bastante intimidade com a equipe técnica e com os diretores – diferentemente de em A Favorita – por causa da viagem. Apresentei uma música do Charme Chulo ao diretor, que não sei ainda se vai entrar, e nenhuma minha. Eu não tenho essa necessidade de cantar.

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E o teatro, ficou para trás?

É coisa de maluco fazer teatro junto com novela. Vejo pessoas fazendo teatro enlouquecidas, tendo que cancelar espetáculo porque estão gravando ainda. Vou espera passar a novela.

Já se mudou para o Rio de Janeiro?

Estou hospedado aqui. A Globo meu deu um apartamento até o fim de A Favorita e continuo nele até acabar Paraíso. Mas acredito que, neste ano e no próximo, vou ficar por aqui, para entender mais desse universo. Estou sentido essa necessidade. As coisas estão me chamando.