Após ganhar o Urso de Ouro com Tropa de Elite no ano passado, o diretor José Padilha retorna ao Festival de Berlim, que acontece entre 5 e 15 de favereiro, para mostrar Garapa, selecionado na Mostra Panorama, a mostra paralela mais prestigiada do evento.
O filme é seu segundo documentário e, ao contrário do primeiro (Ônibus 174) e da ficção Tropa de Elite, fala de um outro tipo de violência: a fome e a situação de extrema miséria em que vivem famílias no Brasil.
Para documentar esse quadro, Padilha registrou o cotidiano de três famílias cearenses: uma do meio rural, outra de uma pequena cidade (Choró) e a terceira de uma cidade urbana, no caso, Fortaleza.
O título do filme se refere à mistura de água com açúcar que pessoas carentes dão aos seus filhos para aplacar a fome quando não há alimentos.
Padilha conversou com o Caderno G, quando falou sobre o filme, sua volta à Berlinale e os resultados que espera atingir.
Gazeta do Povo Como é voltar a Berlim depois de ganhar o Urso e numa mostra como a Panorama, que prima pela qualidade e originalidade dos filmes?
José Padilha É muito bom, tenho boas memórias de Berlim. Voltar à cidade é um privilégio, principalmente pelo segundo ano consecutivo e em categorias diferentes.
Por que decidiu fazer um filme sobre a fome?
Quis mostrar que a ideia de que não há fome no Brasil é equivocada e como é a vida de quem convive diretamente com a miséria. Garapa fala sobre a fome do ponto de vista das pessoas que sofrem com ela. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), mais de 900 milhões de pessoas vivem nessas condições. É um assunto importante, que precisa ser resolvido e que, com os preços dos alimentos subindo, tende a piorar.
Como o filme é estruturado?
O filme não fala da fome aguda e, sim, da fome crônica, de pessoas que mal se alimentam por toda a vida. Quis dar cara aos números e às estatísticas de que tanto falamos.
Que impactos o filme pode criar?
Espero que contribua para que o problema da miséria e da fome no Brasil seja debatido pela sociedade numa esfera menos abstrata e despersonalizada. É necessário que haja um debate de forma mais concreta e em sua totalidade.
E qual reação espera do público?
Não tenho a menor idéia . É um filme muito difícil, triste, lento, filmado em preto-e-branco, não há trilha sonora. É o oposto de Tropa de Elite. Mas se ele contribuir para levar à reflexão e minimizar o problema da fome crônica no Brasil, fico satisfeito.
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