Desde que a cantora britânica Dido surgiu no horizonte da música pop, classificá-la tem sido um desafio. Não porque ela seja camaleônica, como seu conterrâneo David Bowie. Pelo contrário: todos os seus álbuns, incluindo o mais recente, Girl Who Got Away, que acaba de ser lançado no Brasil, parecem ser construídos em torno de sua voz, bela e algo etérea, como muitas das melodias das músicas que canta. Por mais que ela pareça estar em busca de sonoridades distintas, entre o pop, a eletrônica e o folk, tudo o que grava acaba tendo uma marca, determinada, invariavelmente, por seu timbre vocal.
Girl Who Got Away, já no tratamento gráfico dado à capa, parece querer deixar bem claro que o tempo passou e Dido não mudou muito. Ou, se buscou outras paisagens musicais, jamais se distanciou de uma paleta de cores fundamental, a partir da qual vem construindo sua carreira, desde o lançamento de No Angel, que vendeu 16 milhões de cópias ao redor do mundo e rendeu hits como "Here with Me", "Thank You" e "Dont Think of Me".
O novo disco, o primeiro em quase cinco anos, abre com "No Freedom", cujos primeiros acordes, dedilhados em um violão, conduzem a uma melodia simples, com toques de reggae, que aos poucos vão se rendendo à já citada "sonoridade Dido", e nas faixas seguintes vão incorporando texturas eletrônicas e acústicas, em belas canções.
Nesse quarto CD, a cantora trabalha com um time de produtores da primeira linha como Brian Eno, Jeff Bhasker, Rick Nowels, Greg Kurstin e seu irmão Rollo Armstrong, da banda eletrônica Faithless, com quem grava desde sempre. Essa variedade poderia ser problemática, caso Dido não se impusesse com suas composições e seu timbre.
Em "Girl Who Got Away", que dá título ao álbum, a cantora fala de si mesma, do hiato de meia década em sua carreira, e parece estar feliz com a ideia de ter saído de uma cena musical, que viu, nos últimos anos, a ascensão e morte de Amy Winehouse e o triunfo espetacular de Adele, elevada à condição de "maior cantora do mundo". Essa alegria de ter abraçado o descompromisso também é bastante evidente em "Sitting on the Roof of the World", na qual Dido parece brincar com a ideia de que, no auge de seu sucesso, ousou abrir mão do suprestrelato em nome de sua privacidade. Ela canta: "Lá estava eu, sentada no telhado do mundo/ Sem saber como havia chegado lá ou como ir embora". E não há por que duvidar.
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