Outras atrações
Confira como foi a apresentação de outros artistas no Tim Festival deste ano, realizado em São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória, entre os dias 21 e 27 de outubro.
Nacionais
Entre os brasileiros, o maior destaque foi Marcelo Camelo, que se apresentou no Rio no sábado. O ex-Los Hermanos tocou 15músicas. Treze de Sou, primeiro trabalho-solo, além de "Pois É" e "Morena", canções da banda que está em stand-by. Ao vivo, a presença do grupo que o acompanha é marcante. Houve espaço até para uma improvisação pós-rock do Hurtmold quando Camelo, sentado, dedilhou sua guitarra em meio a solos dissonantes do trompetista norte-americano Rob Mazurek. "É muito bom estar aqui, em casa" e "galera bonita" foram as únicas frases pronunciadas por Camelo.
Substituições
Roberta Sá e Arnaldo Antunes, escalados para substituir Paul Weller, fizeram shows regulares antes da apresentação de Marcelo Camelo e não lotaram o local do espetáculo.
Arrebatador
O show da compositora e contra-baixista norte-americana Esperanza Spalding, de 23 anos, foi irretocável. Composições standarts como "Body and Soul" e surpresas como "Ponta de Areia" (Milton Nascimento e Fernando Brunt) ganharam energia ao vivo. Acompanhada do guitarrista Chico Pinheiro, apresentou um jazz moderno, que flerta com rock e soul e torna-se ainda mais interessante devido a seu timbre imponente.
Cerebral
Tomasz Stanko Quintet e seu free jazz se superaram na noite de sábado. O trompetista e compositor polonês tocou temas de mais de 20 minutos, oferecendo espaço para que o virtuosismo de seu baterista e percussionista aparecesse.
Ao trazer o lendário Sonny Rolins, a promissora Esperanza Spalding, a diva Stacey Kent e a veterana Carla Bley, o Tim Festival 2008 lembrou suas origens, quando ainda tinha o nome de Free Jazz. Ao anunciar o rapper Kanye West, o apelo pop estava garantido ainda que com certa dose de estranheza. Contornando as desistências de Paul Weller e da banda The Gossip, a programação para os fãs de rock ficou a contento, com a ótima apresentação dos semi-desconhecidos do The National, o neo-hippie do MGTM, os baladeiros The Klaxons e os brincalhões Neon Neon e Gogol Bordello.
Em três palcos fechados e em um a céu aberto montados na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, 17 atrações internacionais e 11 nacionais se apresentaram em três dias, reunindo fãs de várias tribos. Construindo um cenário democrático, o público teve a opção de sentir no próprio corpo os graves estourados das músicas de Kanye ou cantar em companhia de Matt Berninger, vocalista do The National, estrela da segunda noite do evento já que a primeira teve a épica apresentação de Sonny Rolins.
"Obrigado, internet", disse Matt, referindo-se com ironia à maneira de divulgação de sua música. Os nova-iorquinos já lançaram quatro CDs, mas nenhum deles chegou por aqui. À revelia disso, quem assistiu ao show encontrou um vocalista dedicado e comprometido com o que faz. O sujeito com voz de barítono canta parecido com Ian Curtis e dança desengonçado como Morrissey. Sua banda, que conta com dois pares de irmãos, também se assemelha a Joy Division e The Smiths, e se torna candidata para ocupar o lugar de uma delas.
Em coro foram cantadas as belas "Squalor Victoria" e "Fake Empire", presentes em Boxer, álbum lançado em 2007. A banda enfrentou problemas no som durante quase todo o show de uma hora. Em "Racing", uma pane geral fez com que Matt cantasse sem microfone, projetando sua jugular esverdeada a ardorososos fãs que o acompanhavam aos berros.
O problema na tenda continuou durante o show do MGMT. A dupla norte-americana Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden apresentou seu pop retrô e psicodélico para um empolgado público. Em 68 minutos, a apresentação foi baseada em Oracular Spetacular, único disco da banda. Os hits "Time to Pretend", "Youth" e "Electric Feel" deixaram claro que o MGMT não funciona tão bem ao vivo. Por problemas no som ou inexperiência dos jovens durante todo o show, ouvia-se o zumbido de um cabo mal-conectado as camadas coloridas de suas músicas perderam-se, assim como o brilho contido no disco. Bem diferente fizeram os britânicos do The Klaxons, que surpreenderam positivamente em apresentação que só foi superada em público pelo rapper da moda.
Egocentrismo
Kanye West atrasou seu show em mais de uma hora, mas mesmo assim conseguiu "interferir" nas apresentações das jazzistas Stacey Kent e Carla Bley, que tocavam no palco ao lado. Com graves que faziam tremer a estrutura da tenda, o rapper apresentou "Brilhando no Escuro", show recheado de efeitos especiais e dotado de um palco móvel e inclinado que escondeu sua banda de oito músicos. Cerca de 4 mil pessoas presenciaram uma viagem de Kanye pelo espaço: o rapper vestido como um super-herói de tevê da década de 70 conversa com Jane, computador de bordo de sua nave, enquanto explosões e meteoros projetados no telão misturam-se às suas rimas, cantadas por mais de duas horas.
"Good Morning", "Flashlight" e o hit "Stronger" estavam presentes no repertório de 23 músicas. Braços balançando na batida sugerida e coro nas faixas mais famosas completaram o exercício de egocentrismo de Kanye, que agradou aos fãs que pagaram R$ 250 para se submeter à experiência musical e audiovisual mais impressionante do Tim Festival deste ano. Provando ter achado o segredo do pop, "Love Lockdown", faixa que estará presente em seu novo disco e que foi a última música do set, já está consta no ranking semanal da revista norte-americana Billboard.
Clichê proposital
Na noite de sábado, Neon Neon e Gogol Bordello foram responsáveis pela diversão, ainda que de maneira bem diferentes. Projeto paralelo de Gruff Rhys, vocalista do Super Furry Animals, o Neon Neon junta todos os clichês possíveis dos anos 1980 e faz uma homenagem a John Delorean, famoso fabricante de automóveis que emprestou seu nome ao carro da trilogia De Volta para o Futuro. O Gogol Bordello, banda punk-cigana radicada em Nova Iorque, conseguiu trazer o rock do leste europeu ao Rio por meio da loucura criativa do vocalista ucraniano Eugene Hütz. Seus maiores sucessos "Not a Crime", "Immy Punk" e "Purple" foram comemoradas por um pequeno, mas fiel grupo de fãs e propiciaram curiosidade a quem nunca os tinha ouvido. "Qual o nome dessa banda?" perguntou uma jovem, balançando o corpo na mesma velocidade em que Eugene batia com vigor em seu judiado violão cigano.
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