Parece que vai virar moda. Depois de Marisa Monte, mais uma cantora brasileira lança dois trabalhos ao mesmo tempo no mercado. Maria Bethânia apresenta esta semana ao público brasileiro o projeto Dentro do Mar Tem Rio, com os discos Mar de Sophia e Pirata, ambos inspirados pelo tema água, aliando música e poesia. O primeiro sai pela Biscoito Fino e o segundo pelo selo Quitanda, da própria artista, com distribuição da gravadora carioca.
Mar de Sophia tem como inspiração inicial os versos da portuguesa Sophia de Mello Breyner (1919 2004). A cantora baiana foi apresentada à obra da poeta pelo escritor português Antônio Alçada Batista, a quem o disco é dedicado. "Além da beleza da poesia, fiquei impressionada com a forma como ela (Sophia) conduziu seu pensamento em relação à água, principalmente ao mar. E com uma intimidade que nunca tinha visto em uma mulher falando do mar, que é um elemento ligado ao ho-mem, com os marujos, o lobo do mar", explicou Bethânia na coletiva de imprensa realizada semana passada na sede da Biscoito Fino, no Rio de Janeiro. Ela diz que a água é algo imprescindível em sua vida, da qual não pode ficar muito tempo longe. Foram cinco anos pesquisando a poesia de Sophia Breyner. Bethânia lembra que a escolha foi difícil, pois cerca de 70% de sua obra é relacionada ao mar. Mas como já tinha muitas idéias musicais concebidas, naturalmente era conduzida a um determinado verso ou mesmo a um poema inteiro da portuguesa.
O repertório musical foi também o que determinou os versos escolhidos para o casamento com as canções de Pirata. "Quando a música de Francisco, Francisco me chegou, imediatamente me veio à mente João Cabral de Melo Neto", comenta, lembrando o poema "O Rio", do escritor pernambucano, declamado na abertura da citada faixa do CD. "Pirata foi uma coisa feita mais infantilmente, pois no selo Quitanda esqueço que tenho 60 anos, 42 anos de carreira, e fico brincando com os assuntos. E o disco é isso. São as águas da minha região, águas doces, rio, cachoeira, lago, sereno", continua.
Maria Bethânia foi definindo os temas e pedindo músicas a alguns do principais compositores brasileiros. Ela conta que solicitou uma canção à mineira Ana Carolina, que não tem tanta intimidade com o mar. "Gosto de mexer e provocar a Ana, que é muito poderosa. Então falei, Mineira, faz uma música de mar aí. Mas ela arrebentou. Esse tipo de brincadeira é que traz alegria para o meu trabalho", confessa.
Além da música de Ana Carolina ("Eu Que Não Sei Nada do Mar", feita em parceria com Jorge Vercilo), Pirata tem composições de Dorival Caymmi, Edu Lobo e Capinan, Caetano Veloso, Vanessa da Mata e versos de Guimarães Rosa, Fernando Pessoa e de domínio público. Mar de Sophia tem músicas compostas Paulo César Pinheiro, Villa-Lobos, Chico César e Márcio Arantes, Arnaldo Antunes, Tom Jobim e Caymmi e Caetano novamente.
Jaime Alem foi mais uma vez o principal parceiro da baiana na criação dos novos trabalhos. Ela diz que só o arranjador e maestro consegue traduzir tudo o que pensa musicalmente para os outros músicos que a acompanham. "Ele é imprescindível na minha vida. Nesses mais de 20 anos juntos, vem desenvolvendo e aprendendo muito, como eu. Jaime é quem conduz meu pensamento sonoro. Nosso envolvimento musical é mágico, inacreditável. Confio no talento dele, na pessoa, eu sei que ele não vai me trair musicalmente", afirma.
Bethânia já está preparando o show Dentro do Mar Tem Rio, que deve estrear esta semana no Rio de Janeiro o roteiro está sendo elaborado por ela e pelo diretor teatral Fauzi Arap; a direção geral do espetáculo é de Bia Lessa. As apresentações vão contar com cerca de 80% do repertório dos dois CD, além de canções antigas, que, segundo, a artista, são escolhidas de acordo com afinidades com as novas. "A Saudade Mata a Gente" (João de Barro/Antonio Almeida) a faz lembrar de "Gostoso Demais" (Dominguinhos). "Para acompanhar Lágrima, que é uma música linda do (sambista) Roque Ferreira, escolhi uma canção antiga dos Doces Bárbaros, Atiraste uma Pedra. As coisas vão empurrando as outras, chamando", define.
A turnê segue até o fim deste ano no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, com a previsão de ser retomada apenas depois do carnaval.
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