Depois Daquele Baile, filme que está sendo lançado hoje em Curitiba, marca a estréia do ator Roberto Bomtempo na direção de longas-metragens. Adaptação de uma peça teatral homônima, de autoria de Rogério Falabella e Regina Sampaio, a produção apresenta um romance entre personagens da terceira idade, algo pouco explorado até hoje na cinematografia nacional.

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Bomtempo cria um mundo idealizado, quase perfeito, em um bairro de Belo Horizonte. As pessoas vivem tranqüilas, andam calmamente pelas ruas, que aparentemente não têm toda aquela agitação de uma grande metrópole. Nesse local especial, encontra-se a pensão da viúva Dóris (Irene Ravache), que adora cozinhar para seus clientes. O ritual que cerca as refeições, do preparo dos alimentos até a arrumação de pratos e talheres, e as conversas descontraídas à mesa são muitos explorados visualmente por Bomtempo, para passar ainda mais a sensação de paz dos personagens.

Mas claro que alguns deles têm problemas, nada muito grave: uma paixão perdida aqui ou ali, um desentendimento no trabalho. A alegria e descontração de Dóris têm contraponto na figura de Bete (Ingrid Guimarães), a sobrinha fechada em seus sentimentos, ao que parece, à espera de um príncipe encantado – que, mais tarde, descobrirá estar mais perto do que pensa.

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Semanalmente, a dona da pensão promove uma sessão de dança em casa, na qual se destaca o aposentado Freitas (Lima Duarte), que sempre que pode faz a corte para a jovial viúva. O tímido Otávio (Marcos Caruso), que nutre uma paixão secreta por Dóris, apenas acompanha a movimentação do casal, sem tentar também entrar na dança.

A competição pelo amor da viúva é saudável entre os experientes Freitas e Otávio. Tanto que o personagem de Lima Duarte chega a propor um jogo. Ele faz um sorteio para saber quem será o primeiro a ter a oportunidade de conquistar Dóris. Otávio vence a escolha e tem um mês para se declarar à mulher. Caso não consiga, Freitas entra na partida pelo amor dela.

Depois Daquele Tempo é edulcorado até a medula. Mas acredite nas intenções de Bomtempo. Ele não fez um filme com pretensões comerciais, para agradar facilmente o público ou manipular suas emoções – como muitos exemplos recentes do cinema nacional. Quem conhece o ator, e agora diretor, um dos caras mais boa-praças do meio artístico brasileiro, sabe que ele acredita em tudo o que está colocando na tela. Seu filme é realmente honesto e até certo ponto ingênuo, beirando o piegas algumas vezes – na cena do carrossel, o espectador vai perceber, escorre açúcar por todos os lados, assim como no final ultra-romântico.

Mas como cinema mesmo, Depois Daquele Baile não tem muitos atrativos. Muito da história pode ser vista em qualquer novela, e talvez por isso a fita tem um contato tão fácil com o público – foi ovacionada pela platéia do Festival de Brasília no ano passado (mas não sensibilizou o júri oficial, que não lhe concedeu nenhum prêmio) e venceu a Mostra de Cinema de Tiradentes 2006, que tem o prêmio principal decidido pelo voto popular. Emfim, um filme para toda a família. GG1/2