Livro
A Última Entrevista do Casal John Lennon e Yoko Ono
David Sheff. Nova Fronteira, 296 págs., R$ 39,90. Entrevistas.
David Sheff tinha 24 anos, um punhado de reportagens no portfólio e uma missão impossível nas mãos: entrevistar John Lennon e Yoko Ono. Ter as palavras do casal mais controverso da virada dos anos 1960 para os 70 era o desafio imaginado pelo editor da revista Playboy para aquele repórter iniciante que insistia por uma chance. "Ele me perguntou: Você acha que consegue? Eu disse que sim, mas não fazia ideia. Há anos ninguém ouvia falar neles", diz o autor do livro A Última Entrevista do Casal John Lennon e Yoko Ono (Nova Fronteira), disponível há poucas semanas no Brasil.
Desde o lançamento do disco RocknRoll (1975), Lennon e Yoko haviam se isolado numa propriedade em Long Island, Nova York. Sheff levou meses entre cartas, telefonemas e pistas falsas até que Yoko o recebeu para ouvir sua proposta, no apartamento do casal no edifício Dakota, em Manhattan. Na manhã seguinte, xícaras de capuccino e a mesa de um café eram os únicos obstáculos entre Sheff, Lennon e Yoko. Foram três semanas de contato diário, na cozinha do apartamento ou nos estúdios onde Lennon finalizava as canções de Double Fantasy (1980) e também as de Milk and Honey (1984). Três meses depois, no dia 6 de dezembro de 1980, a reportagem chegava às bancas. No dia seguinte, Yoko telefonava para agradecer. Mais um dia e Lennon era o alvo de quatro tiros à queima-roupa disparados pelo maníaco Mark Chapman.
Reflexões
Passados 32 anos, as 20 horas de gravações armazenadas por Sheff chegam ao Brasil pela primeira vez, e traduzidas na íntegra. Em 290 páginas, a obra, além de ser a mais ampla entrevista com o ex-beatle já publicada, apresenta um Lennon completamente diferente do que se vê em outro registro do tipo, As Lembranças de Lennon (Conrad, 2001), livro-entrevista conduzido pelo fundador da revista Rolling Stone, Jann Wenner.
Realizada dez anos antes, em 1970, a entrevista de Wenner dava voz a um artista em transição. Lennon havia deixado os Beatles e estava prestes a lançar seu primeiro álbum solo, Plastic Ono Band (1970). Uma década depois, todos esses assuntos voltavam à baila, mas o que Sheff encontra é um homem "contente, caloroso", como recorda, por e-mail.
"Depois de uma vida inteira perseguindo ilusões, como ele dizia, procurando preencher seu vazio com fama, dinheiro, poder e devassidão, ele encontrou satisfação no último lugar que podia imaginar, em casa, como pai de família", diz Sheff.
Entre caminhadas no Central Park e a sala de estar do apartamento, decorado com obras de Andy Warhol, um sarcófago, um trampolim e o famoso piano branco usado para compor "Imagine", este Lennon efetivamente e não só intencionalmente mais pacífico, prestes a completar 40 anos, não deixa de oferecer ao interlocutor brilhantes considerações sobre música, cultura e política, em reflexões simples mas de alto teor filosófico.
Após uma ativa militância pela paz mundial entre os anos 1960 e 70, Lennon retoma o assunto e analisa as raízes da violência sem receio de expor o seu lado mais cruel: "Eu brigava com os homens e batia nas mulheres. É por isso que estou sempre pregando a paz. São sempre as pessoas mais violentas que pregam o amor e a paz".
Em outro trecho, Lennon reflete premonitoriamente sobre seu próprio destino: "Gandhi e Martin Luther King são exemplos de fantásticas personalidades não violentas que morreram de forma violenta. Somos pacifistas, mas não sei o que significa ser tão pacifista a ponto de levar um tiro. Jamais conseguirei entender".
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