Um pé na bunda, um trabalho de faculdade, uma conversa em mesa de bar ou simplesmente a falta do que fazer, unida a uma vontade transbordante de criar. Não é preciso muito mais do que isso para se montar uma banda (desde que, aliado a tais motivos esteja o mínimo de habilidade musical, claro!). Prova disso são algumas das novas bandas que vêm se destacando no cenário independente curitibano nos últimos meses.Pautadas pelo descompromisso e a despreocupação com possíveis pressões comerciais assinar contrato com uma grande gravadora já não tem mais o apelo de uma década atrás as formações da nova cena curitibana prezam pela qualidade musical, sem abrir mão de tocar o que seja coerente com seus gostos pessoais, independentemente da adesão que esses tenham entre o grande público. "Acho que aprendemos a nos divertir acima de tudo, antes nos levávamos muito à sério", conta Rafael Panke, que ao lado do amigo Marcell Eduardo forma o duo Delta Cockers.Tanto Panke quanto Marcell integraram outras bandas antes de montar a dupla, movidos por uma dor de cotovelo, já que ambos terminaram relacionamentos longos na mesma época. Se, no passado, a intenção era ficar famoso e tocar para grandes públicos, com o Delta Cockers o intuito era única e exclusivamente extravasar as mágoas. "Estávamos com os corações partidos e começamos a banda da forma mais despretensiosa possível", conta Panke.
Postadas na internet, as lágrimas em formato de canções "lo-fi minimalista", segundo a definição do músico, trouxeram resultados surpreendentes à dupla, que foi capa dos dois principais sites brasileiros dedicados à música independente Trama Virtual (www.tramavirtual.com.br) e Fiberonline (www.fiberonline.com.br) no mesmo mês.
A mesma surpresa teve Rosanne Machado, vocalista e violonista da banda Rosie and Me. Após gravar algumas canções com o amigo carioca Alex Souza pelo computador cada um em sua cidade, com encontros esporádicos a garota se assustou com a quantidade de acessos à primeira canção da dupla, lançada em 2006. Logo, a faixa foi "adotada" por rádios estrangeiras, de países como Polônia, França e Alemanha. "Sempre gravei em casa, sem nenhuma pretensão de tornar a banda algo profissional", confessa ela.
Mas não teve jeito, após receber elogios rasgados em blogs nacionais que se dedicam a bandas indie (a exemplo de Trabalho Sujo, do jornalista Alexandre Matias), o Rosie and Me se viu "obrigado" a se levar mais à sério. Após a saída de Alex e algumas mudanças de formação, a banda passou a guardar o dinheiro arrecadado nos shows incluindo a excelente abertura para a apresentação do sueco Jens Lekman, um junho do ano passado para a gravação do primeiro EP, Bird and Whale, finalmente lançado no mês passado.
De caso pensado
Mas a espontaneidade sonora das mais recentes formações locais está longe de ser sinônimo de descaso com o público. Isso fica claro durante as apresentações do quarteto Uh La La!, que reúne integrantes da extinta banda Gianninis. Músicas feitas sob medida para cantar em coro, figurinos combinados e a participação de backing vocals convidadas estão entre os elementos responsáveis por lotar os shows que a banda faz pelos bares indies da cidade. "Fazer músicas mais animadas e botar o público para dançar, é uma das nossas intenções desde que formamos a banda e vem dando muito certo", conta a baixista Andreza Michel.
Também de caso pensado, os novatos do Homemade Blockbuster, com menos de um ano de formação, se concentraram em composições dançantes e bem acabadas, com refrões pegajosos e uma intensa performance ao vivo. "Gostamos do resultado e levamos a banda adiante justamente por causa da boa receptividade das pessoas que ouviram nossas músicas ou viram nossos shows", explica o vocalista Neto Salas, um dos fundadores do grupo, que teve início durante um trabalho de faculdade. Confira mais informações sobre as bandas citadas na matéria no quadro ao lado.