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Os carnavais da Banda Polaca no fim da década de 1970: foliões levavam seus próprios carros para a festa, que começava no Passeio Público e se encerrava no antigo bar Bebedouro, do Largo da Ordem |
Os carnavais da Banda Polaca no fim da década de 1970: foliões levavam seus próprios carros para a festa, que começava no Passeio Público e se encerrava no antigo bar Bebedouro, do Largo da Ordem| Foto:

Interatividade

De quais blocos ou bailes que animaram Curitiba em carnavais passados você se lembra?

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  • O jornalista e escritor Dante Mendonça foi um dos idealizadores do bloco em 1975
  • A celebração de rua chegou a reunir cerca de cinco mil pessoas em seus últimos anos

A tevê mostrou, e isso seria o início do fim. Cerca de três mil curitibanos foram ao centro da cidade e pularam o carnaval no Largo da Ordem em fantasias e bermudas. Alguns com instrumentos musicais, outros com moças de biquíni montadas nos ombros. A cena não se passa nos anos 2010, mas sim em 1978, quando a alternativa dos curitibanos ao desfile das escolas de samba e aos bailes de clubes como o Thalia, o Curitibano ou o Operário – então os grandes carnavais da cidade – foi um bloco de rua anárquico chamado Banda Polaca.

Quem conta é o jornalista e escritor Dante Mendonça, um dos idealizadores do bloco, que saiu do Passeio Público pela primeira vez em 1975, e por sete anos subiu a Rua Presidente Faria e a XV de novembro, passando pela Boca Maldita, Cruz Machado e Praça Tiradentes para terminar as sextas-feiras de carnaval no antigo bar Bebedouro, no Largo. A ideia foi gestada no bar Jan Gil, e tinha algo de humor "afetivo" e "folclórico" ao homenagear o gentílico "polaco", de acordo com o jornalista. O nome causou mal-estar e teve de ser mudado – mas isso foi só em 1982. A essa altura, o bloco tinha feito tanto sucesso que já não tinha mais graça. Explica-se.

Carnaval de interior

O êxito da Banda Polaca em uma cidade sem vocação para o carnaval, de acordo com Mendonça, aconteceu em uma Curitiba completamente diferente, que não perdia para o litoral os seus melhores foliões – hoje, com muitos carros, estradas e infraestrutura das praias à sua disposição para fugir em busca de paisagens mais inspiradoras. A frase que o jornalista chama de "a grande pergunta do carnaval em Curitiba" – "fico ou não fico?" – é coisa dos anos 1990. Na década de 1970, os bons amigos ficavam. Daí a ideia do carnaval de rua, que deu certo, logo de primeira, na base do boca a boca.

"Cheguei ao bar do Pasquale [o ponto de encontro, no Passeio Público] com um estandarte de uma polaca com a bunda de fora. De repente, apareceu um tamborim. Depois um bumbo, um pistão, um trombone. Começamos a fazer um barulhinho e, de repente, começou a aparecer curitibano até de trás da moita", brinca Mendonça.

Em 1975, foram cerca de mil foliões. Nos anos seguintes, dois e três mil. Quando o porta estandarte estava na altura da Rua XV de Novembro com a Marechal Floriano Peixoto, o rabo do bloco estava na Barão do Rio Branco. Tudo sem mudar o modus operandi, que continuou na mais perfeita desorganização.

"Era uma coisa, digamos, de cidade de interior", diz Mendonça. "Não tinha problema de assalto ou violência. Todo mundo se conhecia, era entre amigos. As moças que saíam na coluna do Dino Almeida também saíam na Banda Polaca", diz o jornalista, que cita gente como Jaime Lerner entre os espectadores da festa. Rafael Greca comandava um dos blocos, e havia até milionária de carrão com motorista. A esbórnia mobilizou, como diz Mendonça, "a nata da população". Tanto é que tinha até estandarte com crítica ao governo militar em latim: "Quousque tandem abutere Catilina patientia nostra?", perguntava – algo como "até quando a Catilina vai abusar da nossa paciência?". "A Polícia Federal sabia, mas deixava passar, porque o povão não entendia", brinca Mendonça.

Declínio

Pois estes, entre outros atrativos, fizeram o bloco crescer demais – para algo em torno de cinco mil participantes. Mendonça pulou fora nos dois últimos anos. Não que a democratização da festa não fosse bem-vinda. Mas quem esteve nas primeiras edições já não encontrava mais os velhos conhecidos, e não havia um responsável pela organização. "Quando perde o caráter de confraternização e a brincadeira entre amigos, que é o espirito do carnaval, ele não tem mais graça e acaba", diz. O nome do bloco, a pedido da comunidade polonesa, mudou para Banda Vermelha e Preta. A Banda Polaca ensaiou um retorno em 1989. Mas Curitiba já era outra.

"Tem gente que quer decretar o fim do carnaval", diz Mendonça. Como provocação, ele concorda, embora afirme que o sucesso dos Garibaldis e Sacis é uma resposta ao vazio que sente grande parte da população, que quer carnaval. "Sou a favor de se acabar com o carnaval de Curitiba. Porque, aí sim, talvez vá crescer. Tudo o que é proibido é melhor ainda."

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