Marcos Damigo em Deus é um DJ: som e luz são controlados pelos próprios atores.| Foto: Bruno Tetto

Até o atraso é colocado em cena na peça "Deus é um DJ", que começou quase 30 minutos depois do horário previsto no Teatro da Reitoria, na noite da última quinta-feira (29) – há outra apresentação às 21 horas desta sexta-feira (30).

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Pois não se sabe o momento certo em que o espetáculo realmente começa. O público viu, por exemplo, o ator Marcos Damigo se aquecendo. E a atriz Maria Ribeiro dando o tapa final em sua maquiagem. Aquela história da queda da quarta parede, em que ficção e plateia por vezes se misturam, criando uma narrativa simbiótica, ocorre o tempo todo em "Deus É um DJ". A obra faz uma crítica bem-humorada a redes sociais, reality shows, à ausência do silêncio e à efemeridade dos relacionamentos contemporâneos.

O texto ágil do alemão Falk Richter encontrou a direção enxuta de Marcelo Rubens Paiva. Apesar de contar com certa dose de improviso – não se sabe muito bem em que momentos eles acontecem, e isso acaba sendo positivo – os diálogos são naturais e envolventes.

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Marcos Damigo "interpreta" um sujeito que tende à bipolaridade, e começa a peça com um monólogo quase surreal, que lembra o que viveu Jack Kerouac em seu livro On the Road. Maria Ribeiro surge logo depois, requisitando seu espaço, já que Damigo "tinha falado por 20 minutos".

O casal vive em uma constante tensão, mas parece que não tem tempo para resolver seus problemas, por menores que sejam, justamente porque despendem atenção à coisas inúteis. As críticas soam mais diretas – e a peça melhora -- quando os atores fazem autorreferência. Em determinada cena Maria interpreta uma apresentadora de um programa "descolado", e Damigo comenta que hoje há DJs por todo canto, até em inauguração de lojas.

Todos os equipamentos de som, luz e projeção são operados pelos atores, o que dá ares realistas à peça e ao mesmo tempo a sujeita a pequenos problemas técnicos.

Até as piadas com o sotaque curitibano caíram bem – já que a plateia reagiu. Nota negativa foi a impossibilidade de Marcelo Rubens Paiva, que é cadeirante, de subir ao palco. O Teatro da Reitoria não conta com rampas de acesso para deficientes físicos.