Poucas coisas poderiam estar tão distantes quanto o rap metal panfletário do Rage Against the Machine e o pop rock romântico do Los Hermanos. Mas, neste primeiro dia de Festival SWU, um aspecto parecia aproximar esses dois extremos: a poderosa química com seus respectivos públicos.
Reunidos desde 2007, após uma separação que viu o vocalista Zack de la Rocha praticamente sumir do mapa enquanto os outros integrantes da banda formaram o Audioslave, o Rage Against the Machine tinha uma "dívida histórica" com o Brasil.
Formada em Los Angeles por filhos de imigrantes mexicanos e europeus, a banda caiu nas graças dos brasileiros desde que lançou seu primeiro álbum homônimo em 1992, com hits como "Killin in the name", "Freedom" e "Bombtrack", mas jamais havia pisado em um palco por aqui.
Daí, não é de se estranhar que. entre as 50,5 mil pessoas que, segundo a organização, foram ao SWU neste sábado (9), boa parte estava lá para ver o Rage, carregando bandeiras (do Brasil, do MST, do Flamengo e, claro, de Che Guevara) e até seu próprio grito de guerra: "Olê, olê, olê, olê, Ragê, Ragê..."
Com uma presença de palco explosiva e um repertório que cobriu os seus três álbuns executado ä perfeição seja na voz de La Rocha ou na guitarra virtuosa de Tom Morelo, o grupo não demorou para incendiar o público, que ao final da quarta música, a sugestiva "Know your enemy", já derrubava parte da barricada que separava a pista Premium do fosso e tentava invadir a área do palco.
Com cerca de uma hora e meia de duração, o show foi interrompido duas vezes pela banda e, quanto mais seguranças se acumulavam diante do palco para tentar conter a massa, mais o público se agitava e mais energia o Rage Against the Machine parecia empenhar no palco. Um verdadeiro caos roqueiro - felizmente sem feridos graves - movido pelo refrão mais conhecido da banda: "Fuck you, I won't do what you tell me", ou em bom português, Vá se f..., eu não vou fazer o que você me disser.
"With a little help from my friends"
Ainda que longe da anarquia promovida pela música do Rage, os cariocas do Los Hermanos provocaram catarse parecida em seu público, conquistado em sua maior parte na última década graças ao ótimo "O bloco do eu sozinho", disco que, em 2001, chegou a ser visto como suicídio comercial pela gravadora, mas acabou mudando a história do pop brasileiro e, principalmente, da relação dos fãs com a banda.
Não há como os fãs do Los Hermanos - e a banda sabe perfeitamente disso. Mantidos em um hiato temporário autoimposto desde 2007 - mesmo ano em que o Rage resolveu voltar -, Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Bruno Medina e Rodrigo Barba, hoje envolvidos em diferentes projetos pessoais, por vezes não demonstram mais a mesma intimidade de outros tempos. Mas as dezenas de milhares de vozes que vêm lá de baixo, cantando do começo ao fim um repertório que incluiu, entre outras, "Todo carnaval tem seu fim", "Retrato pra Iaiá", "O vencedor", "Cara estranho", "Sentimental", "A flor", pareceram reproximar os músicos - que não dividiam um mesmo palco desde março do ano passado, quando abriram para o Radiohead.
Ao final do show, de cerca de apenas uma hora, Camelo agradecia, visivelmente emocionado, "aos melhores fãs do mundo", enquanto Amarante tentava explicar: "Tem gente que fala obrigado a toda hora, mas... obrigado, obrigado. Obrigado."
Neste domingo, o Festival SWU tem seu segundo dia com destaque para as vozes femininas: a cantora russa Regina Spektor e a norte-americana Joss Stone. Também passam pelo festival o sul-africano Dave Matthews e os americanos do Kings of Leon e do Sublime. Entre as atrações nacionais, haverá entre outros o Teatro Mágico e Capital Inicial. Confira abaixo a programação completa por dia ou artista favorito.