Repertório
Show é celebração da Lapa e resgata sambas de Chico Anysio
A gravação do show do Casuarina, que virou CD e DVD, tenta registrar "o momento de transformação" da Lapa. O cenário portanto, não poderia ser outro que não a Fundição Progresso ao lado dos famosos Arcos, espaço onde o Casuarina (nome de uma das ruas do bairro) foi banda residente por muitos anos.
A escolha do repertório valoriza o resgate de sambas clássicos e também canções "lado B" dos grandes compositores do morro e do asfalto das décadas de 1930, 40 e 50 (algo que os curitibanos do Gente Boa da Melhor Qualidade já faziam uma década antes dos cariocas, diga-se de passagem).
Há, portanto, sambas do tempo da mitológica Lapa dos malandros, como "Devagar com a Louça" (Luis Reis e Haroldo Barbosa). Mas também composições mais contemporâneas, como "Insensato Destino" (Acyr Marques e Maurício Lins), famosa com o grupo Fundo de Quintal.
Outro destaque é o resgate de faixas compostas por Chico Anysio: os sambas "Rio Antigo" e "Nicanor Belas Artes", este último em parceria com João Nogueira.
A diferença do DVD para o CD é que o primeiro contém ainda o trabalho autoral da banda. "Não colocamos no CD, pois havia um registro muito recente destas canções [no disco Trilhos/TerraFirme, de 2011], mas achamos que no DVD valia o registro destas interpretações ao vivo", disse o vocalista João Cavalcanti.
A escolha dos convidados teve a ideia de unir "amigos e parceiros que fizeram parte da mesma cena na Lapa", como os cantores Marcos Sacramento, Teresa Cristina e Lenine.
CD+DVD
Casuarina 10 Anos de Lapa Warner Music. R$ 54,90. Samba.
Tudo começou "meio de brincadeira". Um grupo de amigos pré-universitários, que frequentava os mesmos botecos no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, se reuniu para tocar os sambas antigos que gostavam de ouvir.
Dez anos depois, a banda Casuarina desponta como o principal nome do movimento de revitalização do velho bairro boêmio da região central do Rio. E, para celebrar, lança um pacote com CD e DVD gravados ao vivo pela formação que hoje reúne os músicos Daniel Montes (violão), Gabriel Azevedo (voz e pandeiro), João Cavalcanti (voz e tantan), João Fernando (voz e bandolim) e Rafael Freire (cavaquinho).
"Não imaginávamos a dimensão que a coisa iria tomar. Hoje, as noites de samba na Lapa são incluídas em pacotes de viagens vendidos no exterior", conta João Cavalcanti.
O bairro, que chegou a ser considerado perigoso e obscuro na década de 1990, hoje é um ponto efervescente de criatividade e entretenimento da cidade da moda na América do Sul.
Sem "falsa modéstia", o Casuarina sabe que deu sua parcela de contribuição, com suas famosas rodas de samba ao lado de outros artistas da mesma geração boa parte deles convidados do registrado ao vivo em homenagem aos dez anos de formação da banda.
Do começo em bares pequenos, como o Semente da Lapa e o (extinto) Dama da Noite, até a profissionalização completa, com as rodas de samba para milhares de pessoas na Fundição Progresso e a agenda nacional e internacional de shows, a banda acha que mudou pouco. "Foi uma época divertida, em que firmamos convicções que a gente traz até hoje: basicamente trazer à tona coisas do cancioneiro brasileiro que não são tão óbvias", explica.
Segundo João, durante a virada do século houve "uma necessidade urgente" de recuperar aquilo que ficou "enodoado" na música brasileira em razão da grande repercussão da bossa nova no início da década de 1960. "Quando a internet possibilitou revisitar este material que estava escondido, você escolhia um compositor como Wilson Batista, puxava o fio e descobria verdadeiras maravilhas", conta.
A banda já tem agendado o lançamento do trabalho na maioria das capitais e também em Portugal. Cavalcanti lamenta, no entanto, que a banda nunca tenha conseguido se apresentar em Curitiba. "A gente sabe que aí tem um público conectado com o nosso trabalho, mas até agora só ficou no quase", conta.
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